sábado, 31 de janeiro de 2009

CRÓNICAS DE VIAGEM

Um passeio pela Serra de Montemuro
e um almoço na típica aldeia do Mezio


Reportagem de Carlos Oliveira *

Em tempo recente, quando o meu amigo Adriano Soares resolveu tirar uns dias de férias, depois de um ano ao balcão a memorizar códigos de peças e acessórios para automóveis, resolvemos queseria bom começar o descanso anual com um avantajado almoço num espaço fora do habitual.
Escolhemos um dia de sol radiante para percorrer a zona serrana de Montemuro e visitar algumas das suas aldeias mais típicas e tradicionais do território de Cinfães e Castro Daire. Depois de cruzar terras de Serpa Pinto, o Mercedes SportLine percorreu depressa a distância que nos separava de Castro Daire, mas depois das Portas do Montemuro, pela EN 321, resolvemos atalhar caminho e subimos a serra pelo Picão até ao Feirão, Campo Benfeita e Gosende, para entrar depois na EN 2, que faz a ligação até à cidade de Lamego, onde decorriam as grandiosas festas em honra da Sr.ª dos Remédios, uma das mais importantes romarias de Portugal.
A Serra de Montemuro está inserida num dos mais importantes maciços montanhosos de Portugal, sendo limitada a norte pelo Rio Douro, a poente pelo Rio Paiva e a sul e a nascente por uma linha que abrange os territórios dos municípios da Régua, Resende, Lamego e Castro Daire. E se nas vertentes do Douro, desde as terras de Cinfães, encontramos a predominância do cultivo da vinha, já na zona voltada para o Paiva, as plantações de pinhal e eucalipto são evidentes, estendendo-se até ao concelho de Arouca.
Com 1382 metros de altitude, esta zona serrana tem excelentes pastagens durante todo o ano, cenário de primazia para imensos rebanhos de ovinos e caprinos que por aqui abundam, pouco incomodados com o ruído das dezenas de aerogeradores dos parques eólicos que por aqui se foram instalando, o último nas imedições da Capela de S. Pedro do Campo, zona de culto religioso, local de lazer onde se realiza uma feira anual muito concorrida, onde a atracção principal são as lutas de bois, que proporcionam disputas bravas e apostas entre os proprietários.
Sentimos a imensidão da serra despovoada, o ar puro que se respira, o privilégio de ter uma espaço imenso só para nós, imagens de aldeias que o tempo preservou, e seguimos em frente, deitando os olhos à Capela da Srª da Ouvida, junto à EN 2 e à A24, que divide o espaço com a zona industrial, onde se produz bom fumeiro, com destaque para um presunto de grande qualidade.
O repasto aconteceu no restaurante da Associação Etnográfica do Montemuro, no Mezio, uma aldeia tipicamente serrana do concelho de Castro Daire onde, entre diversas especialidades da região, se come um arroz de salpicão divinal, acompanhado com pão de centeio e um excelente vinho do Dão, ementa simples e singela, mas que nos deixa “ como o aço “, terminologia usual do meu companheiro de viagem.
Para além do restaurante e café, localizado junto à EN 2, a colectividade tem aberto um Centro Regional de Artesanato, onde se pode encontrar, entre vários artigos da região, as tradicionais peças em linho, com modelos e trabalhos para todos os gostos e bolsas, assim como tem em actividade, um grupo de teatro, que tem desenvolvido um trabalho de grande profissionalismo, por todos reconhecido e elogiado.
Depois de passar por Bigorne e dar uma espreitadela no novo Aterro Sanitário do Douro Sul, estivemos em Felgueiras e paramos no miradouro da Capela de S. Cristóvão, a 1141 metros de altitude, para olhar a amplitude da Serra das Meadas e ver o parque eólico ali instalado, um dos primeiros a funcionar em Portugal.
Todos os anos, a 25 de Julho, aqui se realiza uma importante feira de gado, onde acorre gente de todas as redondezas, mas também se realiza uma procissão onde se cantam ladaínhas de penitência.
A imagem de S. Cristóvão é de pedra arcaica e a sua devoção é grande, porque além de ser o conhecido protector dos motoristas, ele é muito invocado como o santo libertador dos cravos, que geralmente surgem nas mãos e pés.
Diz o povo, na sua imensa sabedoria, que na região há 4 irmãos que se vêem uns aos outros, ocupando capelas em locais de grande altitude : S. Cristóvão, S. Macário, Santa Helena e S. Silvestre. Importante é não deixar de passar uma visita à Capela de Nª Sr.ª do Fôjo, rústica e com ar românico, e um pouco mais à frente ocasião para desfrutar uma vista sobre a baixa do Rio Balsemão.
Para trás ficou a Cruz do Rossão, com a sua singela capelinha, e depois do cruzamento, pelo caminho à esquerda chegamos a Picão, com uma igreja de nichos de alminhas, fontes rústicas despejando água gelada da serra, e duas impressivas máscaras de granito cravadas num muro, ás quais o povo chama o Picão e a Picoa, ao que me contam lendários fundadores desta povoação, onde a confecção artesanal de artigos em lã e linho ainda está enraizada.
Antes de chegar à vila de Resende, ainda tivemos tempo para apreciar um pouco a Igreja e o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere, de origem românica, merecendo especial interesse a torre medieval e a janela da capela funerária dos Condes de Resende.
Concretizada uma volta pela zona urbana da vila, onde tomámos conhecimento da expansão verificada em termos de construção habitacional e do comércio, fomos tomar um copo à Cova Funda, um antigo café que continua a resistir às tendências modernas, mas que continua a fabricar as melhores Cavacas de Resende, um doce tão fino que, para além de ser a “ rainha “ da doçaria regional, é o verdadeiro “ ex-libris “ de Resende, como outrora dizia Brito de Matos, o autarca que esteve um quarto de século na liderança da edilidade.
Hoje, não há nenhum café ou restaurante na vila que não as tenha à venda ou tenha mesmo fabrico próprio e a Câmara Municipal, a exemplo do que faz com a produção da cereja, já institui um certame próprio para promover este apetecido doce.
Adquiridas as cavacas para casa, a próxima paragem foi na esplanada da Praia Fluvial de Caldas de Aregos, que está cada vez mais reduzida, impôndo-se que a autarquia de Resende tome as necessárias providências antes que a praia desapareça e o concelho perca um dos seus emblemáticos postais turísticos.
Consta-se que, para o local, está projectada uma grande marina, que possibilitará a acostagem de dezenas de embarcações de recreio, mas a praia, ainda que pequena, é um pólo turístico daquela zona termal, agora enriquecida com um moderno hotel de excelente apresentação. Após uma passagem fugaz pelo Penedo de S. João, num cabeço que permite ver o horizonte do Douro e as povoações de S. Romão e de Aregos, onde gostamos de ver as obras ali concretizadas, num utilitário parque de merendas, fomos descansar um pouco na esplanada da Estalagem de Serpa Pinto, em Porto Antigo, uma unidade hoteleira de bom nível, já referenciada pelo Guia Michelin.
Entre uma imperial e a brisa que chegava dos lados da Pala, ali ficamos a contemplar os barcos de cruzeiro que sulcavam o Douro, a apreciar beleza daquela zona da foz do Bestança e a discutir as potencialidades que ainda estão por explorar neste espaço fluvial de deslumbrante encanto. Voltamos a subir a serra, de novo até às Portas de Montemuro, local de interesse arqueológico, partilhado pelos concelhos vizinhos de Cinfães e Castro Daire, e considera do como imóvel de interesse público, já referenciado nas inquirições de 1258. Consta que o sítio atesta os vestígios de um povoado fortificado da Idade do Ferro, talvez integrado na cultura castreja e que depois foi reutilizado pelos romanos e durante a reconquista, durante a passagem dos combatentes à ordem de D. Afonso Henriques.
Apesar da capela ali construída, e cuja feira se realiza no terceiro Domingo de Agosto, outros optam por referir Muro das Portas, evidenciando que os caçadores e pastores ali se protegiam do rigor do Inverno, sendo verdade que o nome pode estar mesmo relacionado com a passagem dos rebanhos transumantes da Serra da Estrela.
Acabamos a fazer umas compras para uma churrascada e descobrimos um vinho verde tinto excelente, rótulo Tapada dos Monges, oriundo da região de Fafe, que justifica bem o preço que apresenta, tal o nível da sua qualidade, um autêntico néctar dos deuses que acompanha bem uma posta arouquesa grelhada só com sal.
Foi um dia em cheio, que voltou a fazer perceber porque razão, só na serra é que sentimos a tranquilidade e o conforto que necessitamos para a alma e para o espírito, contrariando o “ stress “ deste quotidiano de crise que só nos trama a existência.
Havemos, se Deus nos ajudar, de percorrer outras vertentes serranas, e falar-vos de uma visita à típica aldeia cinfanense da Gralheira, a segunda freguesia mais alta de Portugal ( Sabugueiro continua na liderança ) e provar um cozido tradicional que ali se serve, agora que a mania das “pizzas ” em forno de lenha já chegou ao topo da serra.


* Jornalista

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DE VILA VIÇOSA


O LAGAR DE AZEITE DAS FRAGAS


Aspecto interior do lagar de azeite que outrora laborou em Vila Viçosa, no concelho de Arouca. Em primeiro plano, o moinho de tracção animal; ao fundo, a zona de prensagem.
Em 10 de Outubro de 1969, continuámos as nossas digressões por terras de Arouca. Começámos por visitar a povoação de Espiunca, onde já tínhamos estado precisamente dois meses antes, e, após reduzida volta, desta vez com melhor tempo, prosseguimos o percurso pelo mesmo estradão.
Com muito pó deixado para trás, alcançámos o lugar de Vila Viçosa, ainda na freguesia da Espiunca. Aqui, visitámos o lagar de vara, pertencente a Aníbal da Fonseca Pinheiro, que detalhada e pacientemente nos foi falando da sua oficina.
Segundo pudemos apurar recentemente, este lagar encontra-se ainda em estado de laborar; pelo menos, não existem quaisquer referências ao seu cancelamento na Delegação da J. N. A., em Coimbra.
A sua estrutura é idêntica à dos lagares de Canelas: a mesma porta larga para entrada dos carros; os mesmos materiais de construção, com as pedras sobrepostas, sem qualquer argamas­sa. Quanto a iluminação, é talvez um pouco superior: uma janela lateral permite iluminar a zona de prensagem; a porta principal de acesso permite a entrada plena de luz, iluminando perfeitamente o moinho.
O moinho (veja-se a figura anexa), sendo de tracção animal, é de longe superior aos que anteriormente estudámos. De grandes dimensões e com duas grandes mós, conhecidas também na região pela designação de galgas, apresenta um amplo vaso de granito, cilíndrico exteriormente e de forma tronco-cónica no seu interior.
Curiosa e invulgarmente, as mós ou galgas não são de igual dimensão, tendo sido respectivamente designadas pelo informador por galga maior e galga menor. Accionadas por meio da almanjarra, giram em volta de um grosso eixo de ferro, encimado por um prato cilíndrico, onde colocam «o gasóimetro».
A almanjarra é atrelada ao animal por meio de uma corda ou um pedaço de correia, conhecidas por açoga ou soga.


Henrique J.C. de Oliveira

Por terras de Arouca, in separata da Revista " Estudos Aveirenses ", ISCIA - Aveiro / 1994

Na região do Vale do Paiva
Madeireiros continuam a destruir EN 225
* abismos profundos esperam os automobilistas


Situação de total destruição é o estado a que chegou a EN 225 na zona entre Travanca (Cinfães ) e Vila Viçosa ( Arouca ) por força da utilização dos madeireiros, aliás situação já noticiada em recente edição do Jornal de Paiva que chegou a motivar uma fiscalização da Direcção de Estradas de Aveiro.
Se é certo que os madeireiros pagam impostos para trabalhar e tirar as madeiras dos montes, também é certo que os impostos que pagam não lhes dá o direito de destruir o que é de todos e que a todos serve, fazendo uma utilização destrutiva, ignorando totalmente as mínimas regras de civismo e de preservação do colectivo. Impoêm-se, por isso, que deixem a estrada limpa e conservada, depois de cada utilização...será pedir muito ? Ou será que ninguém se preocupa com a impunidade que grassa…
Vergonhosa é a situação actual, quando a mesma Direcção de Estradas (EP) pagou a uma empresa especializada ( RODIMANTEM ) para fazer ( e de forma exemplar ) uma limpeza geral nesta Estrada Nacional que serve o Vale do Paiva e, logo a seguir, depois das máquinas e trabalhadores passarem, a estrada volta a ser utilizada como estaleiro, ocupada com lenha, valetas destruídas e repletas de entulho, e muros de suporte derrubados, numa impunidade total e falta de respeito pelos utilizadores.
Ainda recentemente, foi concretizada uma empreitada para reparar e reconstruir todos muros derrubados e destruídos ao longo da EN 225, mas a verdade é que, em algumas zonas, já outros estão danificados, criando perigos vários para quem ali circula.

Seria pois, fundamental que pudesse existir uma fiscalização mais interventiva nesta zona, com processos de contra-ordenação céleres, punindo de forma exemplar aqueles que se estão a “ marimbar “ para as boas regras do civismo e da cidadania, respeitando e zelando uma estrada nacional, com perfil de montanha e com abismos profundos, que ficou totalmente desguarnecida de protecção ( não havia rail's, agora nem árvores ) em locais muitos perigosos sobre o Vale do Paiva, agora e de forma abusiva, constantemente ocupada com madeiras, valetas e bermas atulhadas de lixo e entulhos, com sinalização derrubada e até muros de protecção destruídos.

Crónica de Viagem

UM PASSEIO DESDE VILA VIÇOSA
Á TERRA " ONDE O MORTO MATOU O VIVO "






Saí de Vila Viçosa bem cedo, percorrendo o actractivo Vale do Paiva pela EN 225 por Alvarenga, Cabril e Parada de Ester, onde a paragem para o cafezito da praxe é sempre uma obrigação.
O objectivo desta incursão pelo Maciço da Gralheira era chegar a Covas do Rio, com o destino marcado para a mitica e emblemática Aldeia da Pena, não sem antes subir ao Monte de S. Macário, onde o santo disputa a fé de duas freguesias.

Um relance pelo horizonte irregular oferece um recorte em bruto de arestas soltas. Mas a natureza rude do local não espantou a beleza nem a vida. E deixou a vegetação tomar conta de maior parte da geografia, apesar da vertigem telúrica, que empurrou as povoações para vales profundos.
Entre o abrigo das montanhas, a vida começa cedo. Em Covas do Rio, concelho de São Pedro do Sul, a chegada do carro do padeiro agita a tranquilidade. Abre-se a porta de trás da carrinha e o cheiro a pão e bolos liberta-se e ganha nitidez na matriz silvestre do ar, quase imaculado.
Muitos visitantes chegam à aldeia, são forasteiros de todo o lado que se reúnem na orla da aldeia. A maioria vem da zona do Porto, mas há também quem venha de Viseu e de Lisboa, e até jornalistas ficam maravilhados com o silêncio e a grandiosidade da cordilheira montanhosa que envolve a aldeia, nas profundezas da serra.
Longe do bulício urbano, sente-se o impacto do oxigénio fresco nos pulmões. Vale a pena conhecer este pedaço de Portugal...
A descida é vertiginosa, os travões do Golf aguentam o desafio e o esforço, depois da garganta está a Aldeia da Pena». O trajecto aperta-se entre dois maciços montanhosos. A vegetação dissimula-o, mas, entre os vincos do xisto, o cenário revela-se surpreendente e enigmático...
Um grupo excursionista segue pela vereda estreita. A água é uma espécie de radar sonoro, que sobreviveu aos vestígios de antigos moinhos. Quando mais perto se está da garganta que o dedo da guia sublinhara, mais o caminho se aperta.
As mochilas parecem ficar mais sensíveis à gravidade. Mas tudo parece ter também um efeito inversamente oposto no ânimo deste grupo que encontramos, cujo esforço é recompensado com a visão imperdível da Pena. Lá está a tão falada aldeia da Pena, que se oferece por entre o vinco estreito de duas moles de xisto.
Aninhada dentro de um caldeirão rochoso, a pequena terra suscita muita curiosidade e a pergunta é um imperativo da viagem : " Quem se terá lembrado de vir para aqui ?».
A opção parece inexplicável, para quem está habituado às proximidades que a cidade oferece. Mas ali, aparentemente, longe de tudo, parece-se estar-se perto da tranquilidade perdida das cidades, aqui tudo é silencio, acalmia e até o sol tem hora marcada para surgir e desaparecer entre os altos penhascos da montanha.
Com a visão sossegadora da aldeia. A erva ensolarada parece o sítio perfeito para descansar e aliviar o peso da comida nas mochilas, antes de entrar pelas suas ruas estreitas e ultrapassar a sugestiva placa no início do caminho percorrido, " o caminho onde o morto matou o vivo».
Terá sido lenda ou tragédia? Não falta quem se prontifique a contar a história e nós atentos aos pormenores, porque esta gente simpática e hospitaleira, gosta da nossa atenção...
Noutros tempos, muito antes do conjunto de casas ter ficado reduzido á dezena de habitantes, que actualmente lhe sobreviveram, a aldeia não tinha cemitério. Quem morresse tinha que empreender uma última viagem até Covas do Rio pelos desequilíbrios do carreiro que segue ao lado da linha de água.
Numa dessas vezes, reza a história, o caixão atraído pela vertigem soltou-se com um dos seus carregadores atrás. E a jornada, que começara com um morto, terminou com dois. O caminho acabou baptizado pelo trágico incidente e ainda hoje perdura a memória da tragédia...
À noite, as luzes acendem-se em poucas casas. Durante o dia, o movimento gira em torno de dois pólos. Na casa da dona Augusta e do senhor António, que regressaram, depois de décadas de ausência por Lisboa, para abrir uma pequena loja de artesanato, e de um casal mais jovem, que se ocupa de um restaurante no retiro montanhoso, onde também vendem miniaturas de xisto, e das duas filhas que já nasceram ali.
A Dona Augusta conta que há muitas décadas atrás tinha de vencer diariamente o caminho para ir para a escola. O senhor José explica que tinha que fazer o mesmo para vir visitá-la, quando ainda namoravam. Coisas de uma vida repleta de dificuldades na luta pela sobrevivência...
O caminho onde o morto matou o vivo foi substituído agora por outro, que talha uma das encostas e permite aos carros chegar ao local. Mas o trilho ancestral continua lá, à espera que quem se atrever a visitá-lo, numa homenagem à vida que passou durante muito tempo por ali. Satisfeitos por conhecer o local, renovamos os votos de voltar em breve e enfrentamos a dureza da subida íngreme até ao S. Macário, onde o senhor José do Restaurante " Salva Almas " já nos esperava com uma pratada de bacalhau e um vinho do Dão que nos deu forças e alento para continuar a jornada até Arouca, não sem antes concretizar uma paragem na " venda " de Regoufe para um cafézito e mais umas fotografias do que resta do antigo complexo mineiro.

* Carlos Oliveira - reportagem

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

VILA VIÇOSA EM DIA DE NEVÃO HISTÓRICO


Ao contrário de anos anteriores, neste Inverno tivemos neve com fartura...
O Inverno actual, para além de rigoroso em demasia, foi pródigo em queda de neve... coisa rara que já não se via por esta localidade há uns bons anos...
Depois do grande nevão de Dezembro, o dia 9 de Janeiro de 2009 foi histórico, com um nevão mais forte e prolongado, deixando a região gelada e com as estradas principais cortadas...
Foi bonito de ver esta terra do Vale do Paiva coberta de um manto branco, apesar das consequências daí decorrentes, com o registo de alguns acidentes na EN 225 e muitas complicações no sistema de abastecimento público de água.
Perpetuadas na nossa memória e no espaço da Internet, aqui ficam algumas fotos desta terra e desse inesquecível dia de nevão em Vila Viçosa - Arouca :











terça-feira, 27 de janeiro de 2009



III FESTIVAL INTERNACIONAL DE ÁGUAS BRAVAS (FIAB)
AGENDADO PARA O FINAL DE FEVEREIRO

Depois de um adiamento forçado pelo fraco caudal, o FIAB tem agora novas datas.

Um dos rios menos poluídos da Europa, o Paiva, faz correr as suas Águas Bravas, e as suas margens continuam a mostrar a beleza pura que sempre tiveram.
As condições únicas que aqui encontramos para a prática do Desporto Aventura estão pois reunidas. De 27 de Fevereiro a 1 de Março de 2009, as Águas Bravas do rio Paiva prometem trazer de volta a adrenalina a todos aqueles que visitem Arouca, por ocasião do III FIAB – Festival Internacional de Águas Bravas.
Trata-se de um evento único no país, que traz à região de Arouca, nomeadamente às freguesias de Canelas e Espiunca, muitos adeptos do ‘rafting’ e do ‘kayak’, oriundos de todas as paragens, para desafiarem os seus limites e descobrirem paisagens naturais como em nenhum outro local é possível.
Também o Rio Paivó, afluente do Paiva, com as suas águas cristalinas, promete-lhe momentos de aventura inesquecíveis.
As margens de ambos os rios oferecem-lhe paisagens de uma beleza rara, a natureza no seu estado mais puro, ao alcance do seu olhar.
O III FIAB é motivo também para aventurar-se e descobrir o concelho de Arouca. A sua história, o seu património, a sua hospitalidade, a sua beleza natural, por serras, rios e vales, a sua gastronomia e doçaria conventual. Aceite o desafio. Visite Arouca... e aproveite a passagem por Vila Viçosa para apreciar esta terra de encanto da margem direita do Rio Paiva.
Esta é uma organização da Câmara Municipal de Arouca, em parceria com a AGA- Associação Geoparque Arouca e o Clube de Canoagem e Aguas Bravas de Portugal.

CRÓNICAS DE VIAGEM

Desde Vila Viçosa na Rota do Ouro Negro

Um passeio pelas aldeias serranas de Arouca
e um piquenique no planalto da Freita












Por Carlos Oliveira *

De Rio de Frades a Tebilhão, passando por Cabreiros e pelo lugar do Cando, este percurso de montanha que hoje apresento como sugestão, leva o visitante a percorrer lugares de encantamento da Serra da Freita e descobrir a imensa beleza da paisagem serrana do norte do distrito de Aveiro.

A viagem feita por caminhos antigos, na rota do volfrâmio, começa no pequeno largo da antiga e típica aldeia de Rio de Frades, pertencente à freguesia de Cabreiros, a onde chegamos depois do desvio feito em Ponte de Telhe, lugar típico junto ao Rio Paivô e integrante da freguesia de Moldes, uma das vinte que fazem parte do território de Arouca.
Consta que esta povoação foi fundada por frades jesuítas, que ali procuraram refúgio na época pombalina, aquando da extinção das Ordens Religiosas, daí a denominação que o lugar assumiu desde então. O percurso é feito por estrada estreita de asfalto até ás antigas instalações mineiras, ligadas à exploração e extracção do volfrâmio, onde existe um pequeno núcleo habitacional alojado na parte do que resta das estruturas das minas.
Foi em Rio de Frades, durante a Segunda Guerra Mundial, que os alemães organizaram o seu centro de exploração mineira de volfrâmio, minério rico que captavam em múltiplas minas abertas nos montes das cercanias, para utilizarem depois no fabrico de armas e munições, com vista ao seu endurecimento e maior resistência bélica.
As primeiras minas de volfrâmio nesta região de Arouca, que atraíram centenas de homens para trabalhar na exploração, foram demarcadas em 1914, e foram abandonadas depois do final da guerra mundial, encontrando-se hoje em ruínas as estruturas desse centro mineiro.
No tempo da exploração do minério, os empregos eram raros nesta região do concelho de Arouca, onde a maioria da população trabalhava numa agricultura de subsistência, o que proporcionou uma grande oferta de postos de trabalho, atraindo todo o tipo de gente para esta zona da serra, desde gente séria e trabalhadora, a vigaristas, ladrões e arruaceiros.
O curioso é que, do outro lado da montanha, para os lados de Regoufe, eram os ingleses que dominavam a exploração do volfrâmio, o que significa dizer que, enquanto no cenário do conflito mundial as duas potências europeias se degladiavam, por estas paragens da serrania de Arouca, alemães e ingleses coabitavam de forma pacífica, apenas preocupados com a dimensão das suas explorações mineiras para alimentar a guerra que se desenrolava a poucos milhares de quilómetros.
Depois de passar por algumas galerias das antigas minas e respectivas cascalheiras, o viajante deve prosseguir, durante algum tempo, pela curva de nível, sem subir ou descer, à vista do Rio Frades, que corre lá ao fundo pouco tumultuoso, por entre apertadas gargantas e penhascos.
Logo de seguida, inicia-se uma suave descida que vai levar-nos ao pequeno pontão pela qual é feita a travessia do riacho, seguindo-se depois a subida constante até à povoação de Cabreiros, em pleno coração da serra.
Cabreiros domina a serrania, já em pleno caminho do Maciço da Gralheira, sendo sede de freguesia com mais três aldeias, Tebilhão, Cando e Rio de Frades, mas seguindo em frente pela vertente da serra, já nos horizontes do lado de S. Pedro do Sul, valerá a pena dar também uma espreitadela a Drave, a aldeia dos Martins, camuflada na cova de uma prega da montanha, junto ao Ribeiro de Palhais, afluente do Paivô, agora terra abandonada, recebendo de, quando em vez, um acampamento de patrulhas de escuteiros ou os aventureiros dos “raides “ todo-o-terreno, que descem à profundeza da aldeia, a 4 km num vale que mete medo e que exige uma condução muito atenciosa.
Com mais de 250 habitantes, a freguesia de Cabreiros apresenta recantos bem preservados e tem como principal actividade económica a agricultura e a pastorícia, e o património cultural e edificado resume-se à Igreja Matriz e à Capela de Santa Bárbara, que servem como sugestões para completar a visita a estas paragens, aconselhando-se sempre uma passagem pela aldeia tradicional do Cando, localizada junto à estrada municipal, aberta pelos militares da Engenharia de Espinho, aos moinhos de água e à Serra da Cabreira.
Logo à saída, um pouco mais à frente chegamos a um encruzilhada, local onde a imaginação popular diz aparecer bruxas e lobisomens em noite de lua cheia.
As cinco alminhas, dedicadas a S. Bartolomeu, S. José, Stª Isabel, S. João e S. Pedro, colocadas em cada esquina, estão lá para os esconjurar.
Vale a pena parar em Cabreiros, sem esquecer os caminhos e veredas que aqui se entroncam, mas já o lugar do Cando, apesar da sua pequenez, tem uma enorme beleza, podendo mesmo dizer que é um pequeno oásis de deslumbramento perdido na imensidão da Serra da Freita.
Seguimos depois para Tebilhão, o trajecto entre as duas aldeias apresenta paisagens únicas, do lado de Cabreiros avistam-se as leiras em socalcos onde os habitantes promovem uma agricultura de subsistência, e do lado de Tebilhão avista-se o casario da terra de Cabreiros e o verde que cobre os campos de cultivo que a cercam.
A paragem neste magnífico vale de berço deve ser demorada, para espreitar as ruelas e recantos, falar com os habitantes, quer para dar uma vista de olhos aos vales apertados do Rio de Frades e seus afluentes, que compõem a paisagem.
São cenários agrestes mas impressionantes, que fazem o viajante meditar sobre o imenso esforço, despendido ao longo dos tempos pelos residentes, para dominar a montanha e construir um espaço de vida e uma paisagem de encantar.
Prosseguimos o trajecto, que a hora do tacho já vai adiantada, passamos junto à Capela de Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros e atingimos a Carreira dos Moinhos de Tebilhão, junto à estrada de asfalto que veio ligar a aldeia ao Mundo.
Aqui existe um marco geodésico que assinala a altitude, calcula-se um desnível de mais de 500 metros desde a zona de Rio de Frades, e voltamos pelo mesmo caminho até Cabreiros, onde na rua central “alapamos o rabo” num estabelecimento comercial, para tomar o cafezinho da praxe e refazer energias para enfrentar a descida até ao local da partida.
Retemperadas as forças, voltamos ao caminho, agora com o Vale do Paivó aos pés, com montanhas a perder de vista, até à mais alta cumeada da Serra do Montemuro, onde temos prometida uma “ tainada “ no S. Pedro, constituindo tudo numa paisagem inesquecível que nos aguça a vontade de tudo perpetuar em fotografia.
O silêncio envolvente que se regista pelo caminho apenas é quebrado pelo sibilar suave de uma brisa fresca que desce da montanha e, aqui e além, pelo canto das aves, ou pelo voo tranquilo de uma águia de asa redonda.
A hora já ia tardia e o estômago roncava por todos os lados, afinal o farnel na mala do carro já devia ter sido devorado, quanto mais não fosse pelo inusitado facto de comer o almoço na hora do lanche.
Desde Ponte de Telhe, sempre a subir, regressamos em direcção à Portela de Moldes, e hesitamos numa visita ao alto da Senhora da Mó, onde também a paisagem sobre o Vale de Arouca é soberba e existe um local aprazível para piqueniques e convívios.
A Serra da Freita com a sua vasta extensão, alberga no seu seio, espécies faunísticas e florísticas raras, algumas mesmo em vias de extinção, e por aqui não é difícil encontrar, por entre a urze a carqueja, o azevinho e os medronheiros, o lobo ibérico, o javali, o gato bravo e a águia de asa redonda.
Para além do fenómeno da granitização único no país e raríssimo no Mundo, retratado nas “ pedras parideiras “ da Castanheira, vale a pena conhecer estas aldeias plenas de rusticidade, carregadas de tradição e de história, terras de gente humilde e laboriosa, que se perdem aqui e ali no meio de paisagens deslumbrantes, constituindo um encanto para a vista e um bálsamo para o espírito.
A ideia era ir comer ao Merujal, ali junto ao acolhedor Parque de Campismo ou nas imediações da Capela da Senhora da Laje, onde a água é fresca e abundante, mas acabamos por descobrir um local paradisíaco, junto ao Rio Caima, ali junto ao centro da freguesia da Albergaria da Serra, a poucas dezenas de metros da famosa e conhecida Frecha da Mizarela, uma queda de água com mais de 60 metros de altura, e hoje o principal ex.libris da Serra da Freita.
Uma oportuna intervenção municipal privilegiou um espaço apetecível e com potencial turístico, que convida ao descanso, que é como quem diz, a uma demorada soneca, depois do ataque ao tacho dos panados e coxas de frango, depois de umas fatias do famoso Pão-de-Ló de Arouca, tudo regado com um tinto encorpado de Bairros da Quinta do Burgo, do amigo Barbosa, e de um afamado espumante de vinho verde Saramagosa, da Quinta do Covêlo, de Castelo de Paiva, uma produção de excelência sob a tutela do Carlos Costa Oliveira, recentemente premiado no concurso anual da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.
O regresso pela vila de Arouca contemplou, como não podia deixar de ser, uma visita à Casa Testinha, onde os amigos José Augusto e Carlos Alberto, que sempre recordo com estima desde os tempos de estudante, continuam a servir com a mesma simpatia e atenção, mostrando que o sucesso da casa continua a passar pelo dinamismo, comunicabilidade e afabilidade dos patrões.
Aqui fala-se de futebol quase sempre, mas come-se um frango frito e uma carne assada que são divinais, ao ponto de não ser nenhum exagero, se disser que esta é uma referência gastronómica da vila, onde novos e velhos, ricos e pobres, comem à mesma mesa e sempre com um gosto que se renova a cada dia. A caminho de Canelas, no alto de Mealha, junto à EN 326, ainda tivemos tempo de visitar o Centro de Interpretação Geológica / Museu dos Fósseis, e admirar as obras ali realizadas, uma estrutura importante no roteiro turístico do concelho e já considerado como uma mais valia para a própria Região de Turismo da Rota da Luz, organismo sedeado em Aveiro.
Aqui encontram-se alguns dos maiores e mais raros fósseis, espécies únicas no Mundo, que nos permitem potenciar o estudo da origem e a evolução da vida na terra, imaginando os crustáceos marítimos que dominavam o planeta na Era Paleozóica e que viviam em águas profundas ou superficiais, extinguindo-se há milhões de anos.
Chegamos a casa, depois da passagem pela zona fluvial da Espiunca, onde se evidencia a verdadeira pista de águas bravas do Rio Paiva, uma das melhores do género no país, cada vez mais procurada pelos amantes dos desportos radicais, mais concretamente os entusiastas do rafting, que aqui vão ter em breve um Centro de Aventura, pronto a acolher os diversos operadores, que todas as semanas trazem aventureiros para as descidas nas águas tumultuosas do rio.

* Jornalista