segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


CRÓNICA

A “Putéfia” da Marquesa de Paiva







Por Carlos Oliveira

Confesso que há uns tempos atrás fiquei um pouco desiludido com a prestação de José Hermano Saraiva, um grande comunicador que sempre admirei, no episódio do seu programa “ Horizontes da Memória “, gravado em Junho de 2000, no concelho de Castelo de Paiva.

A verdade é que esperava mais sobre a história, as lendas e tradições desta abençoada terra duriense, apesar de, reconhecer que, comparando programas realizados noutras paragens, o concelho de Castelo de Paiva saiu dignificado e amplamente foi privilegiado.
A possibilidade dos pais de Santo António terem vivido nesta região, a história do Marmoiral da Boavista, a Ilha do Castelo e tantas outras histórias que perduram através dos tempos, podiam ser referidas naquela edição de um programa que sempre apreciei e vi com gosto, quanto mais não seja pelo entusiasmo que sempre me desperta a nossa história como Povo e Pátria e a emoção das viagens pelo território nacional.
Já sabemos que Castelo de Paiva é uma terra carregada de lendas e ternura, onde o desconhecido ainda perdura na memória daqueles mais ligados a estas coisas do antigamente. Desde moiras que ficaram para encanto, de minas repletas de riquezas e tenebrosos feitiços, repletas de oiro fino e maldades de fazer arrepiar a espinhela, por aqui há de tudo…
São, se assim se pode dizer, ofertas do povo humilde ao sublime, ao sonho e ao desconhecido.
Na ocasião, confesso que gostei mais da palestra que o velho “ mestre “ proferiu nesta vila, no âmbito da “ Semana da História sobre o Ex- Ultramar Português “ , quanto mais não fosse pela extraordinária oratória que a todos encantou, e pela frontalidade com que criticou aqueles que, de um momento para o outro, esquecem os valores do patriotismo e andam agora, armados em parvos e em intelectuais de latrina, a falar do “ achamento “ do Brasil e outras baboseiras de bradar aos céus, demonstrando uma pacóvia sabedoria que só nos envergonha como povo.
Recordo hoje que, nesse programa, para além da história do Rei Garcia, que por aqui nunca se ouviu falar, da narração feita sobre a Marquesa de Paiva, assunto de destaque na edição que José Hermano Saraiva dedicou a esta terra, apesar de aturada investigação confirmar que a dita senhora nunca esteve relacionada com esta terra. Deve ter sido, certamente, outra qualquer dama, talvez oriunda de alguma nobreza que por aqui passou, que não esta evidenciada no programa, que o insigne comunicador se queria referir.
Uma coisa é certa, ninguém pode dizer que o ilustre advogado, figura mais conhecida como historiador da TV, faltou à verdade. Disso não há dúvidas, porque a Marquesa de Paiva existiu de facto e ao que se consta foi uma refinada putéfia na alta-roda da nobreza parisiense, sacando guita e outras riquezas aos condes mais entusiasmados pelas suas roliças coxas e pela sua fama de levar na fita qualquer homem numa lábia contagiante que a todos atiçou, chegando a comprar o nome a um português com que se casou por interesse.
Nascida num gueto de Moscovo, filha de um alfaite pobre, Teresa Lachman cedo percebeu que não tinha nascido para ser pobre e reparou que a virtude e o trabalho não eram os melhores atributos para afastar a miserabilidade, protagonizando uma auspiciosa aventura que terminou com a conquista da alta classe de Paris, cidade que se rendeu à sua glória.
Esta confirmação descobria eu, numa espectacular crónica do grande escritor António Alçada Baptista, outrora publicada numa das edições da revista “ Notícias Magazine “ e podem crer que é uma história impressionante, de grande interesse e que vale a pena ler pelo seu espectacular fascínio.

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