De Vila Viçosa ao Alentejo
A viagem faz-se bem, se tivermos em conta que a utilização da A1 até à saída para Torres Novas e depois a A23 até perto de Abrantes, encurta o tempo de percurso e coloca-nos rapidamente na planície alentejana
Atravessado o Tejo, seguimos pela EN 2 até Ponte de Sôr e daí pela EN 119 para Alter do Chão, terra localizada na Via Romana Lisboa – Mérida, e sede da antiga Coudelaria Real, uma instituição fundada nos finais do Reinado de D. João V, em 1748.
Com bom piso e rectas a perder de vista, a EN 245 passa por Fronteira e Sousel e num ápice leva-nos a Estremoz, a cidade branca, rodeada de muralhas e da riqueza do mármore branco.
Cruzamos depois a A6, a auto – estrada que liga a capital a Badajoz e por Borba e a histórica Vila Viçosa, eis que chegamos a Alandroal, terra antiga, de resistência militar, fundada por D. Lourenço Afonso, outrora Mestre de Aviz.
Pertencente ao distrito de Évora, Alandroal é uma bonita vila alentejana, localizada na margem direita do Guadiana e sede de um município fronteiriço com 544 km2 de área e cerca de 6600 habitantes, subdividido por seis freguesias: Nossa Senhora da Conceição, Capelins, Juromenha, São Brás dos Matos ( Mina do Bugalho ) Santiago Maior e Terena.
Elevada à categoria de vila em 1486 por uma Carta Foral atribuída por D. João II, mais tarde confirmada por D.Manuel em 1514, esta terra do agora denominado Alentejo Central, é limitada a norte pelo município de Vila Viçosa, a leste pelo território de Olivença, ocupado e roubado pela vizinha Espanha, a sul por Mourão e Reguengos de Monsaraz e a oeste pelo concelho do Redondo.
Ao concelho do Alandroal foram anexados, no século XIX, os territórios dos antigos municípios de Terena e Juromenha, onde ao nível do património edificado se destacam as suas fortalezas, estruturas de defesa que justificam bem uma demorada visita.
A povoação de Vilareal, situada no território de Olivença, era uma localidade do antigo concelho de Juromenha, por isso, no âmbito da administração espanhola, o estatuto desta povoação continua indefinido, até porque o Estado Português, apesar da diplomacia pouca coisa ter feito, nunca reconheceu a soberania espanhola sobre o território abusivamente ocupado de Olivença.
Porta de entrada para a região do grande lago, a terra do Alandroal é um município acolhedor, de grande potencial turístico, não só por ser um concelho com três castelos, mas sobretudo porque estamos a um passo da imensidão do Alqueva, um recurso natural de excelência, agora também aproveitado para os cruzeiros fluviais.
Um riquíssimo património histórico e uma deslumbrante paisagem natural são duas características desta terra, profundamente marcada pelo Rio Guadiana e por magníficas construções que retratam um passado histórico repleto de lutas e emoções.
Particular destaque merece igualmente o Santuário da Boa Nova, um templo fortaleza construído em meados do século XIV que constitui um magnífico exemplo da arquitectura medieval, muito raro no nosso país.
O Pelourinho de Terena, a Ponte Romana, a Fonte Monumental da Praça, localizada na sede do concelho e variadíssimas igrejas de grande beleza arquitectónica e decorativa constituem outros motivos de interesse para conhecer este recanto fronteiriço de Portugal.
Tal como o diversificado património arqueológico, os ambientes naturais, a paisagem da zona envolvente das barragens e a proximidade com o país vizinho, são argumentos que cativam e incentivam a uma viagem mais demorada.
Os saberes da região alentejana espreitam-nos a cada esquina e quem por aqui anda pode deliciar-se com os cheiros e os sabores de pratos tradicionais, apreciar vinhos encorpados de qualidade superior e até maravilhar-se com as formas dadas por artesãs que dão vida ás mais diversas meterias primas.
Aconselho mesmo uma visita ao Restaurante Típico “ A Maria “, mesmo por detrás do Castelo, referência gastronómica na região, de pessoal simpático, com um interior que recolhe a herança das verdadeiras tradições alentejanas e onde se come uma sopa de cação divinal e uma saborosa carne de porco com migas, petiscos que sabem bem com um tinto forte “ Aldeias de Juromenha “, vinho recente da Herdade dos Outeiros Altos, ou um “ Callistus Tinto 2005” , da região de Reguengos, produzidos à base das famosas castas aragonês e trincadeira.
O Rio Guadiana passa mesmo ao lado, com as suas típicas azenhas, mas o Castelo do Alandroal continua a ser o ex-libris da vila, como monumento nacional mandado construir no Reinado de D. Dinis, destacando-se ainda a Igreja Matriz, do Séc. XV.
Uma visita ao concelho do Alandroal não pode deixar de lado imóveis patrimoniais de assinalável interesse, como são as igrejas e ermidas localizadas nas diversas povoações que integram o município, mas merecem uma referência especial a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Igreja da Misericórdia, para além das pinturas de rara beleza existentes na Ermida de S. Bento.
Município essencialmente rural e com uma forte dinâmica ao nível do artesanato, as gentes do Alandroal vivem também da agro – pecuária e da actividade silvícola, mas a região ainda possui recursos minerais de ferro e cobre ( Minas do Bugalho ), sendo que a Expo-Guadiana, a realizar na primeira semana de Julho, é um dos eventos mais importantes deste concelho, atraindo milhares de visitantes, muitos deles do outro lado da fronteira, á procura de bons vinhos e dos melhores petiscos.
Eleito para um segundo mandato, o actual presidente da Câmara Municipal de Alandroal é João Martins Nabais, um autarca dedicado à sua terra, cujo grande orgulho são as obras de reabilitação concretizadas no espaço do Largo do Arquiz, complementarizadas com a imponência de um moderno e funcional Fórum Cultural Transfronteiriço, a fazer inveja a terras com maior dimensão.
As fortalezas do Alandroal e a terra “ roubada “ de Olivença
Um dos atractivos do concelho do Alandroal é a Fortaleza de Juromenha, importante Praça de Guerra, classificada como Imóvel de Interesse Público, outrora conquistada aos mouros por D. Afonso Henriques, que chegou a ter Governador e Guarnição Fixa, ponte de defesa estratégico no Vale do Guadiana e que, entre a Guerra da Restauração e a Guerra Peninsular, sobre o rio cuja travessia fechava, foi considerada uma das chaves da fronteira na região do Alentejo.
Recordo que, no contexto da restauração da independência portuguesa, a partir de 1640, e ante a iminência de uma invasão espanhola, impôs-se a completa reestruturação das fortificações fronteiriças de Portugal, adaptando-se muitas estruturas ainda medievais ás exigências da artilharia daquela época, como foi caso desta fortaleza raiana.
O francês Nicolau de Langres, foi o responsável das obras de modernização do castelo em 1646, mas a traição falou mais alto e passou para o lado do vizinho inimigo, comandando ele próprio uma investida militar em 1662 contra a fortaleza que ele próprio construíra, tomando a sua posse para a coroa espanhola até ao Tratado de Lisboa, em Fevereiro de 1668, ocasião em que retornou á posse portuguesa.
Com a perda da sua função defensiva, diante da evolução dos meios bélicos, entrou em decadência, até ao seu abandono em 1920 e foi a Direcção-Geral dos Monumentos nacionais que assumiu algumas obras de recuperação e restauro até 1966.
Impressionando pela sua antiguidade, a vila de Terena, com o seu castelo, ergue-se no alto do monte e assume-se como terra de convicção e de recordações. É das mais antigas vilas da península e foi fundada em 1262, na zona onde se ergue a Igreja da Boa Nova ( mandada construir em agradecimento pelo triunfo na Batalha do Salado ), mais tarde para o morro que hoje ocupa e onde existia, desde o século XIII o imponente castelo fronteiriço.
O foral da vila data de 1262 mas o castelo só foi edificado no século XV, constituindo um notável exemplar de fortaleza senhorial do período manuelino. A sua construção foi ordenada por D. João I, monarca que integrou o burgo no padroado da Ordem de Avis.
O antigo concelho de Terena, que abrangia as freguesias de Terena, Capelins e Santiago Maior, foi extinto em 1836, estando desde então integrado no concelho de Alandroal. O município tinha, de acordo com o recenseamento de 1801, cerca de 2 mil habitantes. Já nos finais da década de 1970, foi construída nesta freguesia a Barragem do Lucefécit, que permitiu o desenvolvimento da agricultura de regadio nesta vasta região da fronteira alentejana.
Bem próximo, do outro lado da fronteira e do Rio Guadiana, entramos no município de Olivença, território português abusivamente ocupado pela soberania espanhola, com estatuto de cidade, inserido na província de Badajoz e integrando a Comunidade Autónoma da Extremadura.
A posse de Olivença foi assumida pela coroa portuguesa em 1297, e anexada pela Espanha em 1801, mas ainda hoje, oficialmente, a República Portuguesa não reconhece a soberania de Espanha sobre aquele município e considera-o português “ de jure “.
Com cerca de 480 km2, e apenas a 23 km da cidade de Elvas e 24 km da pujante cidade de Badajoz, o território de Olivença apresenta-se de forma triangular, com dois dos seus vértices na margem esquerda do Guadiana, sendo de destacar a aldeia de Vila Real que, à altura da ocupação, fazia parte da freguesia e concelho de Juromenha, actualmente no município de Alandroal, tendo também sido anexada pelos interesses espanhóis.
Sabe-se que, na delimitação da fronteira entre Portugal e Espanha faltam ainda colocar 100 marcos, desde o nº 801 e o nº 900, já que os dois acordos de definição fronteiriça de 1864 e 1926 deixaram de delimitar uma faixa do Alentejo coincidente com o Território de Olivença, em resultado de Portugal não reconhecer a soberania espanhola sobre a região e em virtude de Espanha continuar, orgulhosamente, a adiar a reentrega desta parcela portuguesa.
Recorde-se que o Projecto do Centro de Estudos de Arquitecturas Transfronteiriças, criando em Olivença em 1995, contem a seguinte afirmação, que se considera bem esclarecedora sobre este problema, que jamais deve ser ignorado pelo Estado Português:
“ Desde una perspectiva diplomática, Olivenza resulta ser uma matéria pendiente entre ambos os países, hasta el punto que la comisión interministerial encarregada de revisar los limites fronteirizos entre ambos os países, dejan permanentemente sobre la mesa la delimitacion de los marcos fronterizos que se corresponden com el termino municipal oliventino “
Para que o silêncio português não seja entendido como reconhecimento tácito da abusiva ocupação espanhola das terras de Olivença, a diplomacia de Portugal tem recordado à Espanha, periodicamente, e não tantas vezes quantas seria necessário, os direitos que nos assistem para reavermos o município oliventino.
Neste contexto, os Correios Portugueses partilham esse sentimento e não atribuem sequer qualquer Código Postal ás localidades do Território de Olivença.
E se é certo que a questão da ocupação espanhola não é um assunto que motive a discussão por estes lados, por diversas razões que toda a gente conhece, a começar pelo melhor nível de vida do outro lado da fronteira, não deixa de ser verdade que, se a Espanha possuísse algum argumento válido para justificar esta anexação abusiva, fundamentá-lo-ia no Tratado de Badajoz de 1801.
Ora acontece que este tratado, juntamente com o Tratado de Madrid rubricado no mesmo ano, perdeu o seu valor jurídico, considerando-se nulo e de nenhum efeito, mas a verdade é que “ nuestros hermanos “ apenas continuam a olhar para o seu “ umbigo “, conforme se comprova na reivindicação constante do Estreito de Gibraltar aos ingleses, ao mesmo tempo que não cedem um milímetro nas duas regiões que detêm no Norte de África, na costa marroquina.
E nunca será demais lembrar que o Tratado de Badajoz foi negociado entre as duas partes no conflito : Portugal, na triste condição de estado invadido, e a França e a Espanha unidas, como estados invasores.
Voltarei, no entanto, com outras histórias em outros cenários, deste país tão belo que, muitos ainda teimam ignorar e destruir…
* Jornalista
Porta de entrada na região do grande lago
Uma visita ao município do Alandroal
a terra das três vilas e dos três castelos
Uma visita ao município do Alandroal
a terra das três vilas e dos três castelos
Por Carlos Oliveira *
“ Na mesma guerra vê, que presas ganha
Est’ outro capitão de pouca gente;
Comendadores vence e o gado apanha
Que levam roubado ousadamente
Outra vez que a lança em sangue banha
Deste só por livrar c’o amor ardente
O preso amigo, preso por leal
Pêro Rodrigues é do Landroal !! “
Foi assim que o grande poeta Luís Vaz de Camões se referiu ao território do Alandroal na épica obra dos “Os Lusíadas”, terra de encanto e de gente acolhedora que, a propósito de mais um Congresso de Informação Municipal, visitei recentemente, voltando à raia alentejana, região de largos horizontes, de boa comida e excelentes vinhos, onde é fácil perder-me de encanto pela sua monumentalidade militar e ambiente sereno e saudável.
Est’ outro capitão de pouca gente;
Comendadores vence e o gado apanha
Que levam roubado ousadamente
Outra vez que a lança em sangue banha
Deste só por livrar c’o amor ardente
O preso amigo, preso por leal
Pêro Rodrigues é do Landroal !! “
Foi assim que o grande poeta Luís Vaz de Camões se referiu ao território do Alandroal na épica obra dos “Os Lusíadas”, terra de encanto e de gente acolhedora que, a propósito de mais um Congresso de Informação Municipal, visitei recentemente, voltando à raia alentejana, região de largos horizontes, de boa comida e excelentes vinhos, onde é fácil perder-me de encanto pela sua monumentalidade militar e ambiente sereno e saudável.
A viagem faz-se bem, se tivermos em conta que a utilização da A1 até à saída para Torres Novas e depois a A23 até perto de Abrantes, encurta o tempo de percurso e coloca-nos rapidamente na planície alentejana
Atravessado o Tejo, seguimos pela EN 2 até Ponte de Sôr e daí pela EN 119 para Alter do Chão, terra localizada na Via Romana Lisboa – Mérida, e sede da antiga Coudelaria Real, uma instituição fundada nos finais do Reinado de D. João V, em 1748.
Com bom piso e rectas a perder de vista, a EN 245 passa por Fronteira e Sousel e num ápice leva-nos a Estremoz, a cidade branca, rodeada de muralhas e da riqueza do mármore branco.
Cruzamos depois a A6, a auto – estrada que liga a capital a Badajoz e por Borba e a histórica Vila Viçosa, eis que chegamos a Alandroal, terra antiga, de resistência militar, fundada por D. Lourenço Afonso, outrora Mestre de Aviz.
Pertencente ao distrito de Évora, Alandroal é uma bonita vila alentejana, localizada na margem direita do Guadiana e sede de um município fronteiriço com 544 km2 de área e cerca de 6600 habitantes, subdividido por seis freguesias: Nossa Senhora da Conceição, Capelins, Juromenha, São Brás dos Matos ( Mina do Bugalho ) Santiago Maior e Terena.
Elevada à categoria de vila em 1486 por uma Carta Foral atribuída por D. João II, mais tarde confirmada por D.Manuel em 1514, esta terra do agora denominado Alentejo Central, é limitada a norte pelo município de Vila Viçosa, a leste pelo território de Olivença, ocupado e roubado pela vizinha Espanha, a sul por Mourão e Reguengos de Monsaraz e a oeste pelo concelho do Redondo.
Ao concelho do Alandroal foram anexados, no século XIX, os territórios dos antigos municípios de Terena e Juromenha, onde ao nível do património edificado se destacam as suas fortalezas, estruturas de defesa que justificam bem uma demorada visita.
A povoação de Vilareal, situada no território de Olivença, era uma localidade do antigo concelho de Juromenha, por isso, no âmbito da administração espanhola, o estatuto desta povoação continua indefinido, até porque o Estado Português, apesar da diplomacia pouca coisa ter feito, nunca reconheceu a soberania espanhola sobre o território abusivamente ocupado de Olivença.
Porta de entrada para a região do grande lago, a terra do Alandroal é um município acolhedor, de grande potencial turístico, não só por ser um concelho com três castelos, mas sobretudo porque estamos a um passo da imensidão do Alqueva, um recurso natural de excelência, agora também aproveitado para os cruzeiros fluviais.
Um riquíssimo património histórico e uma deslumbrante paisagem natural são duas características desta terra, profundamente marcada pelo Rio Guadiana e por magníficas construções que retratam um passado histórico repleto de lutas e emoções.
Particular destaque merece igualmente o Santuário da Boa Nova, um templo fortaleza construído em meados do século XIV que constitui um magnífico exemplo da arquitectura medieval, muito raro no nosso país.
O Pelourinho de Terena, a Ponte Romana, a Fonte Monumental da Praça, localizada na sede do concelho e variadíssimas igrejas de grande beleza arquitectónica e decorativa constituem outros motivos de interesse para conhecer este recanto fronteiriço de Portugal.
Tal como o diversificado património arqueológico, os ambientes naturais, a paisagem da zona envolvente das barragens e a proximidade com o país vizinho, são argumentos que cativam e incentivam a uma viagem mais demorada.
Os saberes da região alentejana espreitam-nos a cada esquina e quem por aqui anda pode deliciar-se com os cheiros e os sabores de pratos tradicionais, apreciar vinhos encorpados de qualidade superior e até maravilhar-se com as formas dadas por artesãs que dão vida ás mais diversas meterias primas.
Aconselho mesmo uma visita ao Restaurante Típico “ A Maria “, mesmo por detrás do Castelo, referência gastronómica na região, de pessoal simpático, com um interior que recolhe a herança das verdadeiras tradições alentejanas e onde se come uma sopa de cação divinal e uma saborosa carne de porco com migas, petiscos que sabem bem com um tinto forte “ Aldeias de Juromenha “, vinho recente da Herdade dos Outeiros Altos, ou um “ Callistus Tinto 2005” , da região de Reguengos, produzidos à base das famosas castas aragonês e trincadeira.
O Rio Guadiana passa mesmo ao lado, com as suas típicas azenhas, mas o Castelo do Alandroal continua a ser o ex-libris da vila, como monumento nacional mandado construir no Reinado de D. Dinis, destacando-se ainda a Igreja Matriz, do Séc. XV.
Uma visita ao concelho do Alandroal não pode deixar de lado imóveis patrimoniais de assinalável interesse, como são as igrejas e ermidas localizadas nas diversas povoações que integram o município, mas merecem uma referência especial a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Igreja da Misericórdia, para além das pinturas de rara beleza existentes na Ermida de S. Bento.
Município essencialmente rural e com uma forte dinâmica ao nível do artesanato, as gentes do Alandroal vivem também da agro – pecuária e da actividade silvícola, mas a região ainda possui recursos minerais de ferro e cobre ( Minas do Bugalho ), sendo que a Expo-Guadiana, a realizar na primeira semana de Julho, é um dos eventos mais importantes deste concelho, atraindo milhares de visitantes, muitos deles do outro lado da fronteira, á procura de bons vinhos e dos melhores petiscos.
Eleito para um segundo mandato, o actual presidente da Câmara Municipal de Alandroal é João Martins Nabais, um autarca dedicado à sua terra, cujo grande orgulho são as obras de reabilitação concretizadas no espaço do Largo do Arquiz, complementarizadas com a imponência de um moderno e funcional Fórum Cultural Transfronteiriço, a fazer inveja a terras com maior dimensão.
As fortalezas do Alandroal e a terra “ roubada “ de Olivença
Um dos atractivos do concelho do Alandroal é a Fortaleza de Juromenha, importante Praça de Guerra, classificada como Imóvel de Interesse Público, outrora conquistada aos mouros por D. Afonso Henriques, que chegou a ter Governador e Guarnição Fixa, ponte de defesa estratégico no Vale do Guadiana e que, entre a Guerra da Restauração e a Guerra Peninsular, sobre o rio cuja travessia fechava, foi considerada uma das chaves da fronteira na região do Alentejo.
Recordo que, no contexto da restauração da independência portuguesa, a partir de 1640, e ante a iminência de uma invasão espanhola, impôs-se a completa reestruturação das fortificações fronteiriças de Portugal, adaptando-se muitas estruturas ainda medievais ás exigências da artilharia daquela época, como foi caso desta fortaleza raiana.
O francês Nicolau de Langres, foi o responsável das obras de modernização do castelo em 1646, mas a traição falou mais alto e passou para o lado do vizinho inimigo, comandando ele próprio uma investida militar em 1662 contra a fortaleza que ele próprio construíra, tomando a sua posse para a coroa espanhola até ao Tratado de Lisboa, em Fevereiro de 1668, ocasião em que retornou á posse portuguesa.
Com a perda da sua função defensiva, diante da evolução dos meios bélicos, entrou em decadência, até ao seu abandono em 1920 e foi a Direcção-Geral dos Monumentos nacionais que assumiu algumas obras de recuperação e restauro até 1966.
Impressionando pela sua antiguidade, a vila de Terena, com o seu castelo, ergue-se no alto do monte e assume-se como terra de convicção e de recordações. É das mais antigas vilas da península e foi fundada em 1262, na zona onde se ergue a Igreja da Boa Nova ( mandada construir em agradecimento pelo triunfo na Batalha do Salado ), mais tarde para o morro que hoje ocupa e onde existia, desde o século XIII o imponente castelo fronteiriço.
O foral da vila data de 1262 mas o castelo só foi edificado no século XV, constituindo um notável exemplar de fortaleza senhorial do período manuelino. A sua construção foi ordenada por D. João I, monarca que integrou o burgo no padroado da Ordem de Avis.
O antigo concelho de Terena, que abrangia as freguesias de Terena, Capelins e Santiago Maior, foi extinto em 1836, estando desde então integrado no concelho de Alandroal. O município tinha, de acordo com o recenseamento de 1801, cerca de 2 mil habitantes. Já nos finais da década de 1970, foi construída nesta freguesia a Barragem do Lucefécit, que permitiu o desenvolvimento da agricultura de regadio nesta vasta região da fronteira alentejana.
Bem próximo, do outro lado da fronteira e do Rio Guadiana, entramos no município de Olivença, território português abusivamente ocupado pela soberania espanhola, com estatuto de cidade, inserido na província de Badajoz e integrando a Comunidade Autónoma da Extremadura.
A posse de Olivença foi assumida pela coroa portuguesa em 1297, e anexada pela Espanha em 1801, mas ainda hoje, oficialmente, a República Portuguesa não reconhece a soberania de Espanha sobre aquele município e considera-o português “ de jure “.
Com cerca de 480 km2, e apenas a 23 km da cidade de Elvas e 24 km da pujante cidade de Badajoz, o território de Olivença apresenta-se de forma triangular, com dois dos seus vértices na margem esquerda do Guadiana, sendo de destacar a aldeia de Vila Real que, à altura da ocupação, fazia parte da freguesia e concelho de Juromenha, actualmente no município de Alandroal, tendo também sido anexada pelos interesses espanhóis.
Sabe-se que, na delimitação da fronteira entre Portugal e Espanha faltam ainda colocar 100 marcos, desde o nº 801 e o nº 900, já que os dois acordos de definição fronteiriça de 1864 e 1926 deixaram de delimitar uma faixa do Alentejo coincidente com o Território de Olivença, em resultado de Portugal não reconhecer a soberania espanhola sobre a região e em virtude de Espanha continuar, orgulhosamente, a adiar a reentrega desta parcela portuguesa.
Recorde-se que o Projecto do Centro de Estudos de Arquitecturas Transfronteiriças, criando em Olivença em 1995, contem a seguinte afirmação, que se considera bem esclarecedora sobre este problema, que jamais deve ser ignorado pelo Estado Português:
“ Desde una perspectiva diplomática, Olivenza resulta ser uma matéria pendiente entre ambos os países, hasta el punto que la comisión interministerial encarregada de revisar los limites fronteirizos entre ambos os países, dejan permanentemente sobre la mesa la delimitacion de los marcos fronterizos que se corresponden com el termino municipal oliventino “
Para que o silêncio português não seja entendido como reconhecimento tácito da abusiva ocupação espanhola das terras de Olivença, a diplomacia de Portugal tem recordado à Espanha, periodicamente, e não tantas vezes quantas seria necessário, os direitos que nos assistem para reavermos o município oliventino.
Neste contexto, os Correios Portugueses partilham esse sentimento e não atribuem sequer qualquer Código Postal ás localidades do Território de Olivença.
E se é certo que a questão da ocupação espanhola não é um assunto que motive a discussão por estes lados, por diversas razões que toda a gente conhece, a começar pelo melhor nível de vida do outro lado da fronteira, não deixa de ser verdade que, se a Espanha possuísse algum argumento válido para justificar esta anexação abusiva, fundamentá-lo-ia no Tratado de Badajoz de 1801.
Ora acontece que este tratado, juntamente com o Tratado de Madrid rubricado no mesmo ano, perdeu o seu valor jurídico, considerando-se nulo e de nenhum efeito, mas a verdade é que “ nuestros hermanos “ apenas continuam a olhar para o seu “ umbigo “, conforme se comprova na reivindicação constante do Estreito de Gibraltar aos ingleses, ao mesmo tempo que não cedem um milímetro nas duas regiões que detêm no Norte de África, na costa marroquina.
E nunca será demais lembrar que o Tratado de Badajoz foi negociado entre as duas partes no conflito : Portugal, na triste condição de estado invadido, e a França e a Espanha unidas, como estados invasores.
Voltarei, no entanto, com outras histórias em outros cenários, deste país tão belo que, muitos ainda teimam ignorar e destruir…
* Jornalista
Hei pá mas que grande passeio ao Alentejo, tou a ver que conheces bem aquilo mas então não fotografias do passeio? isso nem parece teu ou esqueceste da maquina fotografica em casa ? um abraço e boa reportagem sim senhor
ResponderEliminarFalta agora é fazeres um passeio mais demorado em Vila Viçosa :)
ResponderEliminarUm Abraço!