segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

TRAGÉDIA NO RIO PAIVA

Morte de praticante de “Rafting” na Bateira
deveu-se a eventual distracção dos tripulantes

· falta de Cais de Acostagem dificulta as manobras finais das descidas

O acidente de Rafting no Rio Paiva que, no inicio da tarde de Sábado, provocou a morte a João Filipe Borges, um jovem de 34 anos, oriundo de Castro Daire, foi o primeiro nos sete anos do Clube do Paiva e, segundo um dos responsáveis desta empresa de desportos radicais, terá eventualmente ficado a dever-se a uma distracção dos tripulantes, quanto às ordens do monitor da actividade, no momento da acostagem no final da descida, na zona da Bateira, local de fronteira entre os concelhos de Castelo de Paiva e Cinfães.

Rafael Soares, o sócio da empresa que coordenou as acções de rafting da empresa sedeada em Alvarenga, lamentou a morte do tripulante que esteve desaparecido entre as 13:30 de sábado e as 10:00 de Domingo, e afirmou: “ Foi uma infelicidade e, como nunca tivemos sequer uma participação para o seguro, estamos agora a aprender a preencher esse tipo de documentos”.

Quanto às razões para o acidente, Rafael Soares explicou à imprensa que, o acidente aconteceu já no final da prova, junto ao açude da Ponte da Bateira, onde “a extracção de água provoca um fenómeno artificial extremamente perigoso” e o controlo do barco foi dificultado por uma distracção da tripulação, que “ não ouviu bem as instruções do monitor e remou para a frente em vez de remar para trás”.
“ Foi mesmo no fim da actividade”, adiantou aquele responsável da empresa Clube do Paiva. “Não conseguimos fazer a acostagem e a tripulação não colaborou com o monitor conforme era esperado, quando ele disse que era preciso remarem todos com força para trás”.
Para Rafael Soares, tratou-se de “uma distracção” decisiva, porque, “ numa situação destas, é tudo uma questão de segundos e, como as pessoas compreenderam mal a ordem do monitor, não se conseguiu segurar a embarcação “, que acabou por ultrapassar o açude e virar-se, atirando com os tripulantes à agua.
Uma explicação que acaba por contrariar as palavras de Edgar Soares, autarca de Alvarenga e pai do responsável principal desta empresa de desportos – radicais que, em declarações à RTP, referiu que o acidente se deveu ao entusiasmo dos tripulantes que, como estavam na recta final da descida, se entusiasmaram com o feito e se levantaram para festejar, provocando o descontrolo e o “ capotanço “ da embarcação e o acidente junto ao açude.

Soube-se no local que, um monitor “com experiência de 14 anos” ajudou os tripulantes a chegar a terra, tendo inclusivamente resgatado das águas uma pessoa que já estaria inconsciente, mas que conseguiu reanimar.
Nas mesmas operações, interveio ainda um outro monitor, com prática de sete anos neste tipo de desportos de águas - bravas, enquanto um terceiro ficou com os tripulantes já acostados, “para evitar o pânico”, como Rafael Soares realçou que “é um procedimento nestas situações”. O homem que viria a falecer foi o único que saltou para o lado errado, para o leito do rio, e deixou, a certa altura, de ser visto.
“Os amigos disseram que ele se safava porque era bom nadador”, conta Rafael Sousa, “ mas a partir daí nunca mais o conseguimos encontrar ”.
" Ali não há lugar a brincadeiras. Temos que remar todos para o mesmo lado, porque sobram apenas entre cinco a dez metros para a ancoragem. Se isso não acontecer, temos logo de seguida o açude e um problema muito grande pela frente", explicou um dos responsáveis por uma empresa de rafting que, na zona da Bateira, permaneceu solidário na ajuda e nas buscas.
As condições adversas que se têm feito sentir na região, com o caudal do Rio Paiva a tornar-se impetuoso e demasiado violento motivaram muitas críticas de vários quadrantes, nomeadamente dos responsáveis dos Bombeiros de Arouca e de Castelo de Paiva, que consideraram uma enorme irresponsabilidade os operadores promoverem a prática do rafting nestas condições perigosas.
Todavia, o responsável do Clube do Paiva acrescentou que, antes do início de qualquer actividade de rafting, “há sempre um “ briefing “ de 20 minutos em que se explica aos participantes todo o procedimento que têm que ter no rio e as ordens a que têm que obedecer”. “ Depois disso”, continua o mesmo responsável, “ verifica-se todo o equipamento - fatos, capacetes, barcos, cordas.
Mesmo que o grupo seja pequeno, a actividade nunca é feita só com um barco, para que, em caso de um virar, haja outro que possa prestar apoio”. Segundo Rafael Soares, quando João Filipe Borges caiu à água "os amigos disseram que ele se safava porque era bom nadador".
Mas o jovem de Castro Daire, que tinha outro irmão, Ricardo Borges, noutro grupo, acabou por falecer e o corpo só foi encontrado ontem a meio da manhã, por uma das equipas de bombeiros que retomou as buscas às primeiras horas da manhã. Estava a menos de um quilómetro de distância do local da queda, junto à Quinta de Varzielas, na margem de Castelo de Paiva.
" Viram o capacete no meio do rio e aperceberam-se que era o homem". " Um bombeiro nosso teve que entrar nas águas, preso por espias, para resgatar o corpo", esclareceu o Comandante dos Bombeiros de Castelo de Paiva, Joaquim Rodrigues.
Recorde-se que, o corpo do praticante desaparecido nas tumultuosas águas do Rio Paiva, foi resgatado no Domingo de manhã, pelos Bombeiros de Castelo de Paiva, no âmbito de uma operação que envolveu cerca de 70 operacionais, onze viaturas, um barco, um helicóptero e ainda duas embarcações das corporações de Entre-os-Rios e Melres e a participação dos Bombeiros Voluntários de Nespereira e da equipa cino-técnica dos Bombeiros Voluntários de Albergaria.
O corpo foi encontrado a flutuar na água junto à Quinta de Varzielas, na freguesia de Fornos, cerca de 800 metros abaixo do local onde se deu o acidente, na Ponte da Bateira, zona limítrofe do concelho de Castelo de Paiva.

ESTA MORTE PODERIA TER SIDO EVITADA


" Esta morte era facilmente evitável, mas ninguém nos deu ouvidos", defendeu Nuno Borges, um dos pioneiros do rafting em Portugal que, há mais de uma década, se lançou nas águas tumultuosas do Rio Paiva, promovendo as descidas em grupos devidamente organizados.
O único desportista que assumiu publicamente as críticas ouvidas entre os praticantes de rafting que se deslocaram durante o fim de semana ao local do acidente, referiu-se à falta de um porto de ancoragem junto à Ponte da Bateira, entre Castelo de Paiva e Cinfães, local onde terminam a maioria das descidas que tem inicio na Espiunca, no concelho de Arouca, e onde foi construído um açude junto à estação elevatória da empresa Águas do Douro e Paiva.
Para este especialista em águas – bravas, " este foi um acidente estúpido que aconteceu por não haver um acesso em condições do rio à margem" referindo que, também a saída da margem para a estrada ficou mais complicada após a construção de uma estação das Águas do Douro & Paiva já que outrora, o acesso chegou a ser efectuado pelo local da estação, que está vedada, muitas vezes a cadeado, o que obriga à procura de saídas alternativas que dificultam a retirada dos participantes e equipamentos.
E sabe-se também, que os proprietários da margem direita, já na freguesia de Travanca, concelho de Cinfães, também não colaboram com as empresas operadoras e não deixam utilizar o seu terreno para as operações de desembarque dos participantes, sendo que uma das saídas mais utilizadas foi fechada a portão e vedada com pedras enormes.
Conhecedor das águas e perigos que o Rio Paiva ostenta, Nuno Borges admite, porém, que o acidente de anteontem " pode acontecer a qualquer praticante “, evidenciando que, “ um desporto de aventura tem sempre os seus riscos, mesmo quando asseguradas as condições de segurança, como foi o caso", disse por fim este especialista em águas – bravas e desportos radicais.

10 comentários:

  1. com o Rio Paiva conforme estava no fim de semana a tragedia só pode ser classificada pela incuria e irresponsabilidades das empresas que ali praticam actividades radicais os bombeiros de Arouca e de Castelo de Paiva tem toda a razao sim senhor

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  2. Rui Pacheco - Clube Aventura19 de janeiro de 2010 às 02:54

    Pois mas o operador e até o presidente de Alvarenga vem falar nas mas condições e no perigo do açude da bateira, mas o açude já la estava e se nao existem condições de segurança como dizem porque nao evitam aquela zona para o desembarque no final das descidas ????? É preciso dizer a esses senhores que a adrenalina pode ser uma coisa espectacular mas nao vale o risco que se corre e cujo resultado esta a vista

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  3. Concordo com o comentário inicial
    Passei na Bateira no Sábado e no Domingo e com o rio naquelas condições e com aquela correnteza toda só de malucos para andarem lá metidos Se para os experientes e dificil agora imaginem para os clientes sem qualquer experiencia peçam agora responsabilidades

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  4. Parabens pelo blog senhor editor
    esta aqui um trabalho fantastico
    Informação com rigor num espaço atractico que cativa
    Conheço essa zona do Rio Paiva e acho fabulosa pena é que ainda se veja muita sujidade no rio e pelas bermas das estradas
    Uma palavra de atenção a quem de direito
    peço-lhe que escreva sobre isso e denuncie essa falta de civismo das pessoas
    Um abraço da Fernanda - Trofa

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  5. Na verdade o rio tem ido tão forte e com uma agua taão negra nem sequer se ve as pedras o leito do rio esta grande acho que nao deviam praticar assim esse desporto é perigoso mesmo para quem sabe nadar bem mas os entwendidos é que sabem agora nao adianta chorar deveriam ter pensado na segurança antes

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  6. No rio Paiva andam a trabalhar mais de uma dezena de empresas e trazem mlhares de clientes por ano este é um negócio apetecido
    Ainda nao há muito tempo foi denunciado que algumas até estavam em situação ilegal em termos de licenciamento E seguros ?? Mas será que pensam na segurança dos clientes ou acham que um brifing de 20 minutos chega para garantir que tudo corre bem
    Um caso para reflectir e as autoridades agir
    Para bem de quem ali se vai divertir

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  7. As duas fotos do açude da bateira aqui editadas mostram bem a diferença do caudal do Paiva no Verão e agora neste tempo da tragédia é bem elucidativo o perigo destas condições

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  8. Esclarecedor demais este artigo...parabens senhor editor
    Na verdade quem arrisca a vida num rio assim violento sujeita-se as consequancias e foi o que aconteceu
    Lamenta-se a perda desta jovem sinceramente

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  9. Ola bom dia a todos
    So uma questão. Porque será que todos os operadores que andam no Rio Paiva se fecharam em copas e ninguem falau ou explicou nada sobre isto
    Um monitor altamente especializado, con formação no estrangeiro e residente no Porto, disse recentemente que ja tinha prevenido varios colegas empresários das águas bravas o quanto era perigoso descer com clientes inexperientes nestas condições Alguem o ouviu e seguiu as suas recomendações? Pois nao e o resultado esta a vista...infelizmente

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  10. Ainda só recentemente é que a maior parte das empresas que operam no Paiva se legalizou devidamente pois muitas andam por ai a trabalhar de forma clandestina é que ter um alvará nao chegava era preciso muito mais e ate havia quem nem as embarcações tivesse registadas agora é que muitos se lembram de santa Barbara

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