sábado, 28 de fevereiro de 2009

Evocar o passado é honrar o presente

Recortes históricos de Vila Viçosa
e da freguesia de Espiunca


O nome de Espiunca é derivado de Spelunca, que significa cova ou gruta, nome apropriado ao local onde está localizada a sua Igreja Matriz. A freguesia é atravessada pelo Rio Paiva, ficando na margem direita o lugar de Cornes que, por volta de 1890, passou a chamar-se Vila Viçosa.

Os moradores do lugar de Cornes, por considerarem esse nome pejorativo, manifestaram, durante muito tempo, o desejo de mudar o nome da terra para Vila Viçosa, pretensão que mais tarde veio a ser aceite oficialmente.
Por volta de 1890 foram reorganizadas as matrizes prediais, tendo sido encarregado desse serviço, neste lugar, o amanuense da Fazenda Pública, Ernesto Pinto Ferreira, mais tarde escrivão – notário, para mudar o nome do lugar nos livros das respectivas matrizes para Vila Viçosa e assim se ficou a chamar, de forma definitiva, a Vilia de Cornias, que o rei conquistador havia de doar a Afonso Pelaiz.
Conforme referia o ilustre investigador arouquense Simões Junior, in “ Arouca – subsídios para a sua monografia “, o lugar de Vila Viçosa, que pelo Cadastro da População do Reino, de 1527, pertencia à freguesia de Souselo, do concelho de Sanfins, extinto em 24 de Outubro de 1855, passou para a freguesia de Espiunca que, por sua vez, tendo pertencido ao vizinho concelho de Paiva e comarca de Barcelos, por volta de 1750 foi anexada ao concelho de Alvarenga.
Pelo Censo de 1527, o lugar de Vila Viçosa tinha 12 fogos e 48 moradores e a freguesia de Espiunca 17 fogos e 68 moradores, passando em 1767, a ter 300 moradores e, em 1950 a ter 197 fogos e com mais de 800 habitantes.
Sabe-se que, D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, deu a 24 de Abril de 1139, a Afonso Pelaiz e sua mulher Maria Afonso, um Reguengo na “ Vilia de Cornias “ - ( Vila Viçosa ), conforme prova Carta de Doação, que o ilustre arouquense reproduziu na sua monografia.
No lugar da Espiunca, sede da freguesia, consta-se que terá existido um Mosteiro que acolhia um grupo de freiras, que em 1189 tinha por Prioresa Elvira Mendes, que deu uma herdade a João Guilherme e seu sobrinho Martinho Pedro que, pela morte de ambos, ficava livre do encargo da Condutaria, termo que significava todas as iguarias que se comem com o pão, normalmente chamado de conduto.
Não se sabe quando foi fundado este Mosteiro, e muito menos por quem, mas a sua existência é afirmada por Caetano do Amaral, na sua Memória V; João Pedro Ribeiro transcreve o documento da doação e Gama Barros localiza-a no ano de 1199.
A Igreja de S. Martinho da Espiunca incendiou-se em 1794 e tendo sido visitada em 7 de Maio do mesmo ano, pelo Bispo Píncio, este ordenou que os monjes beneditinos, seus padroeiros, a restaurassem, como era sua obrigação; em 30 de Abril de 1800 foi novamente visitada, desta vez pelo representante do Bispo, o Reitor de Santo Erício, que verificando que os beneditinos não tinham feito coisa alguma, “ lamentou o que se passava, ordenando uma finta voluntária para a reedificação da Igreja “, que se concretizou em 1806, mas a sua má construção levou-a rapidamente à ruína pelo que, por volta de 1945, o então pároco local, Padre Adriano Moreira, se viu na necessidade de promover obras e construir uma nova.
Na época dos forais novos, a freguesia de Espiunca pertencia ao concelho de Paiva e no foral deste concelho, dado por El Rei D. Manuel no primeiro de Dezembro de 1513, estão já referenciados os seus direitos e obrigações.
Manuel de Castro Pinto Bravo, na sua monografia sobre o extinto concelho de Sanfins, também relatava o curioso “ costume seguinte “, entretanto desaparecido : quando outrora, não existindo cemitério na dita povoação de Cornes, da freguesia de S. Martinho de Espiunca, que tem a sua Igreja e cemitério na margem esquerda do Rio Paiva, morria algum paroquiano, o préstito fúnebre acompanhava o finado até á beira do Rio Paiva, onde havia uma barca de passagem que se encarregava de levar o féretro à outra banda. Aí, depois de embarcado o defunto, dele se apartavam e despediam, lacrimosos, os seus parentes e amigos, sendo que o familiar mais dedicado atirava para o caixão mortuário a sua moeda de cobre, para que o barqueiro da Espiunca fizesse o fúnebre transporte do corpo que ia ser dado à sepultura e para que não ficasse a sua alma a vaguear pelas margens tumultuosas do Paiva.
Consta-se que, muitas vezes, os cadáveres tinham de ficar na margem direita do rio, por não se permitir a passagem do barco, devido às cheias ou correntes impetuosas que no Inverno acontecem, pelo que a melhor opção, para não acontecer esta situação desagradável, foi construir um pequeno cemitério em Vila Viçosa, mantendo-se todavia, o hábito de lançar, para a urna, uma moeda de cobre, vestígio da passagem do Acheronte, um uso depois abandonado.
Já o lugar de Vila Viçosa, conforme destacava o relato de Simões Júnior, tem uma capela dedicada a S. Pelágio e à sua festividade concorriam procissões das freguesias vizinhas de Nespereira, Fornelos, Moimenta e Travanca.
Em 1297, o Bispo de Lamego, D. Vasco, por uma provisão, autoriza o contrato seguinte entre o Reitor de S.Martinho de Espiunca e o Mosteiro de Pendurada ( hoje Alpendorada ) permitindo a celebração da missa em Vila Viçosa : “ Que o dito André Johanes en sa vida diga, ou faça dizer Missa no dito lugar de Córnias de três em três Domingos, e que lhys dê hy o manifesto e a comuniom; salvo ás festas, em que os ditos homeens devem ir à dita Iygreia a ouvir as missas e a manefestar e a comungar “, in Viterbo Eluc.voc Abadengo.
No livro “ Elementos para a história de Castelo de Paiva “, Margarida Pinho escreveu que, “ pela reforma administrativa de 1835, Paiva pertencia ao Julgado de Arouca – tendo sido nessa época que Espiunca passou do concelho de Paiva para o concelho de Arouca, talvez por se encontrar mais perto deste “.
A passagem de Espiunca para o concelho de Alvarenga muitos anos antes, mas em data que se ignora, não foi pacífica, pois vimos que em 1789 os Oficiais do concelho de Alvarenga, com os homens bons da governança, mandaram prender o barqueiro de Espiunca por desobediência às suas ordens e também pela fama que tinha de explorador e se Espiunca ainda pertencesse a Paiva, a Câmara de Alvarenga não tinha jurisdição.
Pinto Madureira, no número 248 da antiga Gazeta de Arouca, escrevia sobre as Festas de S. Pelágio e do Senhor dos Enfermos, as mais emblemáticas da paróquia: “ S. Pelágio é também muito festejado com todo o esplendor todos os anos, concorrendo ali procissões das freguesias vizinhas numa grande devoção, mas ainda não vai longe o tempo em que a festa dos Senhor dos Enfermos era feita com bastante brilho e ate grandesa, mas mais tarde os habitantes de Macieira e de toda a freguesia de Fornelos, lembraram-se de colocar ali em Macieira, uma imagem do Senhor dos Enfermos com grande estrondo e arrojo, o que veio a roubar à romaria de Seravigões, a maior parte dos festeiros e dos devotos, já pela novidade, de que o povo sempre gostou, já pelo sítio da romaria que é muito superior, já pelas grossas ofertas que ali começaram a cair todos os anos. Ainda assim, a festa de Seravigões, modesta como é, e deve ser, tornou-se digna e muito religiosa “.

Texto adaptado por
Carlos Oliveira


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Roteiro de Viagem

Desde Vila Viçosa na Rota do Volfrâmio

S. Macário atrai milhares de peregrinos
na disputa entre dois lugares de culto







Reportagem de Carlos Oliveira
Mar-2007

Já por diversas vezes fui ao Monte S. Macário, em passeio ou integrado em provas de todo-o-terreno, mas este ano resolvi ir à festa que, anualmente, no último Domingo de Julho, leva milhares de peregrinos e forasteiros a subir aquela serra, encravada na imensidão do maciço da Gralheira.

Sr. José do Café Salva Almas

Cheguei bem cedo, às 4h30 da manhã, mas já não estacionei o carro onde desejava, de forma a poder sair mais cedo, para os lados da Serra da Arada e visitar as aldeias tradicionais perdidas na vastidão da montanha e já pertencentes ao território de Arouca. E neste local, ver o nascer do sol, que do outro lado rompe a serrania do Montemuro, é qualquer coisa digna de ser visto, verdadeiramente espectacular… Às sete da manhã já não se rompia no S. Macário, tal era o movimento de pessoas, carros e autocarros, mas o que mais impressiona é a quantidade de comerciantes que escolhem esta romaria serrana para vender de tudo, até o impensável. Não será exagero nenhum se disser que, em termos comerciais, a típica romaria de S. Macário é o maior centro comercial a céu aberto que se conhece por estas redondezas. Situado nos confins das freguesias de Sul e S. Martinho das Moitas, no concelho de S. Pedro do Sul, o Monte de S. Macário, com mais de 1000 metros de altitude, há muito que está referenciado ao culto deste santo, quanto a mim, de duvidosa ortodoxia, pois até consta e referem as lendas que, mesmo por engano, não deixou de assassinar os seus pais. As duas capelas ali existentes terão resultado da disputa havida entre as paróquias de S. Martinho das Moitas e de Sul, mas em juízo eclesiástico ganhou S. Martinho, que ficou com direito à capela no ponto mais alto da serra. A freguesia do Sul apenas ficou com o direito de ir à Ermida de Cima ou da Cruz Alçada com a procissão da ladainha, no dia da romaria, mas a verdade é que foi a capela de S. Martinho das Moitas que ganhou a maior parte das esmolas deixadas pelos romeiros. Hoje, não sei se será bem assim, porque a ermida de baixo, em dia de festa, está sempre a abarrotar de visitantes. . . quanto mais não seja para conhecer o templo e passar a apertada gruta que ali existe e onde, outrora, terá o santo vivido em penitência profunda. Os de Sul não se deram por vencidos, depois da decisão que estabeleceu os limites geográficos das duas freguesias e a Ermida de S. Macário de Baixo foi edificada em 1769 pelo Abade João de Melo Abreu que paroquiou a freguesia durante 40 anos e faleceu na sede do concelho em Janeiro de 1795. Esta capela foi construída junto a uma gruta, que já referi e onde segundo a lenda e a tradição, terá vivido o eremita, o penitente e o glorioso S. Macário, assim como junto a um casebre onde também se consta que era ali que S. Macário se acolhia. Da capela, simples e singela, passa-se, junto ao altar, através de uma galeria natural para a gruta a que dão o nome de nicho e onde se venera a imagem de S. Macário, numa atitude penitente, mas que não deixa de ser algo estranha, pelo facto da postura ser pouco condizente com uma imagem de sofrimento.

Aldeia de Covas do Monte

A lenda diz que, em tempos remotos, S. Macário terá matado uma serpente enorme que aterrorizava os povos da Pena e da região de Covas do Rio. A serpente escondia-se numa cova funda onde apenas saía para espalhar o terror e a morte naquela zona da serra. Aliviada com a morte do monstro, a população construiu uma capela no alto do monte em honra de S. Macário que, como eremita, viveu inicialmente na cova da serpente e mais tarde na capelinha que ficou com o seu nome. Antes da abertura da estrada, os romeiros dirigiam-se ao S. Macário desde quinta-feira anterior, regressando depois de terem cumprido as suas promessas, mas agora também é costume ir à Serra de S. Macário no último Sábado de Agosto, conhecido por “ Sábado derradeiro “. Um pormenor curioso é a placa que assinala a chegada do primeiro automóvel ao topo do Monte de S. Macário, proeza que aconteceu em Março de 1960, pelas mãos do Dr. José Inácio Coelho, por que até aquela data só os “ jeep’s ” dos Serviços Florestais é que iam lá acima. Ainda hoje não deixa de ser impressionante que o interesse dos peregrinos se divida pelas duas capelas na serra de S. Macário, onde se venera o mesmo santo, cuja imagem se apresenta com evidentes diferenças, a testemunhar a rivalidade ainda existente entre as duas freguesias de S. Pedro do Sul. Antes de rumar a casa, atravessando a imensidão da Serra da Arada, onde o objectivo era observar algumas aldeias tradicionais, ainda tive tempo para descer até à aldeia da Pena, a grande atracção da freguesia de Covas do Rio. A aldeia, com pouco mais de dezena e meia de habitantes, só tem sol umas seis horas por dia, e apesar do dramatismo do percurso, a fazer lembrar as estonteantes descidas asturianas, vale bem a pena uma visita. A estrada, construída em 1976, permitiu tornar a aldeia da Pena mais conhecida, estabelecendo ligação com outras terras das redondezas, ao mesmo tempo que permitiu concretizar a aposta da autarquia de S. Pedro do Sul que avançou com um programa promocional que está a ser um êxito e que se recomenda vivamente. As casas de xisto e cobertas de ardósia ainda continuam a marcar a beleza desta aldeia típica da Beira Alta, alicerçada nas profundezas da montanha, mas algumas já foram recuperadas e até já existe uma tasquinha regional onde se pode encontrar especialidades da gastronomia local à mistura com a venda de artesanato, num investimento muito bem aproveitado com fundos comunitários disponibilizados pelo programa Leader. Para além de uma pequena capela, com um ligeiro esboço de torre sineira, a aldeia tem um minúsculo cemitério, ao nível do casario, que nos faz recordar a história do “ morto que matou o vivo “, a terrível tragédia que outrora teria acontecido quando um funeral subia o íngreme carreiro, o único acesso então existente.

Feira da Festa de S. Macário

De regresso à superfície, que é como quem diz, à estrada principal, e não sem antes fazer uma visita ao conhecido restaurante “ Salva Almas “, e ao longo da vasta extensão montanhosa, tive a oportunidade de percorrer a serrania que se reparte pelos territórios de Arouca e S. Pedro do Sul, ficando maravilhado com o enquadramento paisagístico de algumas aldeias mais características da região, encravadas na rocha e em abismo profundos, resistindo ao tempo e ao isolamento, agora bem menos evidente do que outrora. São aldeias plenas de rusticidade, carregadas de tradição e de história, que se perdem no meio de paisagens, ora inóspitas ora deslumbrantes, constituindo um encanto para a vista e um bálsamo para o espírito. A passagem pelo Portal do Inferno, agora feita com mais segurança, e as vistas das aldeias de Drave, Coelheira, Cabreiros, Tebilhão, Cando, Regoufe e Rio de Frades, estas duas últimas terras com vestígios da exploração do volfrâmio no decorrer da última guerra mundial, onde alemães e ingleses coabitaram de forma pacífica, são atractivos mais que suficientes para justificar a aventura por estas paragens de encantamento. Por aqui encontramos aldeias plenas de rusticidade, carregadas de tradição e de história, que se perdem no meio de paisagens deslumbrantes da montanha, constituindo um encanto para a vista e um bálsamo para o espírito. Por aqui encontramos belos exemplares da Raça Arouquesa, cuja carne muito apreciada, está reconhecida com a Denominação de Origem Protegida e certificada desde Dezembro de 1998, que a exemplo da vasta doçaria conventual, é um dos grandes trunfos do turismo em Arouca, onde o visitante pode, também, conhecer o imponente mosteiro, legado à Rainha Santa Mafalda, filha de D. Sancho I e mais tarde adaptado à Ordem de Cister, onde pode encontrar um dos mais completos Museu de Arte Sacra da Península Ibérica. A Serra da Freita faz parte do maciço da Gralheira, juntamente com as Serras da Arada e do Arestal e na sua vasta extensão alberga espécies faunísticas e florísticas raras, algumas mesmo em vias de extinção.


Subida no Portal do Inferno

Percorrer o planalto serrano, é ter a sensação de tocar o céu, libertar-se do stress e das preocupações, sentir a pureza ambiental e recuperar forças para enfrentar as amarguras do quotidiano… A Frecha da Mizarela, queda de água no curso do Rio Caima com mais de 65 metros de altura, na freguesia de Albergaria da Serra, vale uma paragem, assim como a secular Capela da Sr.ª da Lage, para além do fenómeno das Pedras Parideiras junto à aldeia típica da Castanheira, já no acesso para Manhouce, e da Portela da Anta, a par do funcional Parque de Campismo do Merujal, são outros argumentos num verdadeiro santuário da natureza que, a edilidade arouquense tem, com empenhamento e sentido de responsabilidade, tentado projectar e preservar. A vastidão da Serra do Montemuro e a tipicidade das suas aldeias será o tema da próxima crónica de viagem, a pretexto de um passeio ao Mezio, ali para os lados de Castro Daire, onde se come um arroz de salpicão farto e divinal.

* texto e fotos



Visualizações: 6354
Comentários (3)

Muito bom escrito por João Martins, Março 07, 2007
Tive o cuidado de ler o artigo, e gostei bastante. Há "estórias" engraçadíssimas que muitos de nós desconhecemos (falo em Arouca, para não falar no geral). E a parte final do artigo onde enumera algumas das grandes virtudes que tem a "nossa" Freita está muito bom. Somos uns privilegiados por termos algo tão bom e bonito mesmo à nossa beira. Venha a próxima crónica.
·
A Serra Encantada escrito por Luís Correia, Março 18, 2008
Caro Carlos, Também sou um amante do TT, btt, pedestrianismo e genericamente de todas as actividades qeu se relacionem directa e fisicamente com a Natureza e com a Natureza no seu melhor como é o caso do vasto e impressionante maciço da Gralheira. Sou de Viseu e este local é para mim quase um refúgio mítico, tantas vezes frequentado para reflexão e fotografia ou aventuras de reconhecimento e descoberta, solitariamente ou em grupo, como tem acontecido nestas últimas vezes. O seu artigo é bastante informativo, acertivo e pormenorizado com rigor e desde já o congratulo, apenas para que se sinta estimulado a continuar a divulgar, por todos os meios ao dispor, esta região de beleza ímpar e, felizmente preservada. Participo num blog, ainda muito recente, de um amigo e colega, onde costumamos descrever as nossas impressões dos caminhos que vamos percorrendo e, nesse "santuário natural" fizemos recentemente os caminhos de Regoufe a Drave e Regoufe a Covêlo de Paivô. Um abraço, L. C.
·
Um feliz reencontro escrito por Carlos Tavares Rodrigues, Fevereiro 17, 2009
Andava eu em busca de dados sobre o Santo que aqui se retrata e logo dei de caras com este primor de descrio. Conhecedor destes locais, que aprecio de uma maneira especial, gostaria de convidar o autor deste importante trabalho a dar um salto at aos meus lados, como mais abaixo, onde Lafoes continua o seu encanto, atraves das terras de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul e vai ver que se nao arrepende. Antes pelo contrário: aumnentar, por motivos bem justificados, o seu deslumbramento. Apareça...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009


Central de Biomassa vai ficar nesta região

Câmaras de Arouca e Castelo de Paiva
planeiam importante investimento conjunto

· Unidade Industrial deve estar a funcionar no início de 2012

As Câmaras Municipais de Arouca e Castelo de Paiva promoveram esta semana, no Salão Nobre da autarquia arouquense, uma Conferência de Imprensa, para abordar e melhor esclarecer o processo para a concretização de um investimento orientado para uma Central de Biomassa, a ser localizada numa zona de fronteira dos dois concelhos.
Este projecto será apresentado durante o mês de Abril, ocasião em que será constituída a entidade promotora e terá um investimento que rondará os 80 milhões de euros e poderá, eventualmente criar, mais de meia centena de postos de trabalho, podendo ser a maior unidade de produção de energia renovável a partir de resíduos florestais, a funcionar em Portugal.
Os presidentes Paulo Teixeira e Artur Neves garantiram já o protocolo para a criação da entidade que vai assegurar a prossecução do projecto e estão confiantes nesta intenção de investimento, que irá avançar a par com a construção do IC 35, acessibilidade reclamada e que vai servir os dois concelhos vizinhos, sendo que este projecto é encarado como uma mais valia para a região, podendo ser considerado como um ganho complementar para os proprietários florestais que, limpando as suas matas podem, ao mesmo tempo, também assegurar um rendimento extra.
A ZIF – Zona de Intervenção Florestação de Castelo de Paiva vai ajudar a divulgar e a sensibilizar os proprietários para a utilidade deste equipamento que ficará localizado num terreno de 18 hectares na zona de partilha das freguesia de Real e Santa Eulália, junto à EN 224, e que poderá ser utilizado por proprietários de outros concelhos vizinhos, já que se estima uma produção de 300 mil toneladas / ano, sendo que os fornecedores desta unidade de produção de energia renovável vão receber cerca de 30 euros por tonelada de resíduos entregues.
Para além de considerar que, este investimento público / privado pode contribuir para dinamizar o sector florestal na região, o presidente Paulo Teixeira fez questão de sublinhar o interesse e o proveito económico que este projecto pode ter para as famílias e para aqueles industriais que se dedicam ao sector da exploração florestal, destacando que esta unidade pode potenciar ganhos para a economia local na ordem dos 15 milhões de euros anuais.
A central de biomassa produz energia por queima de resíduos florestais e da indústria das madeiras, incrementando a limpeza das matas e produzindo electricidade a partir de uma fonte renovável, largamente disponível em Portugal, em especial nesta densa zona florestal do Vale do Paiva, nomeadamente as freguesias de Alvarenga, Canelas, Espiunca, Bairros, Travanca e Nespereira.
Em termos ambientais é apontada como grande vantagem do processo o facto da emissão de dióxido de carbono ser nula.
Os dois edis sublinharam a plena concordância das autarquias neste projecto, recordando, que a mancha florestal é predominante nos dois municípios, ao mesmo tempo que vincaram a importância da região contar com boas acessibilidades quando a Central de Biomassa estiver em funcionamento, daí que os autarcas insistam no urgente avanço das obras do IC 35 que, ligando a A4 em Penafiel à A25 em Sever do Vouga, vai servir os concelhos de Arouca e de Castelo de Paiva, passando muito próximo da zona do Pejão Velho.
A Central de Biomassa desta região terá maior dimensão da que está instalada e a funcionar na zona de Mortágua ( ver foto anexa ).
Se tudo correr conforme o previsto, o estudo de impacte ambiental avançará em breve, o investidor também irá promover a adjudicação da obra brevemente, devendo a Central de Biomassa de Arouca / Castelo de Paiva entrar em funcionamento nos finais de 2011.




Reportagem de Carlos Oliveira


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


CRÓNICA

A “Putéfia” da Marquesa de Paiva







Por Carlos Oliveira

Confesso que há uns tempos atrás fiquei um pouco desiludido com a prestação de José Hermano Saraiva, um grande comunicador que sempre admirei, no episódio do seu programa “ Horizontes da Memória “, gravado em Junho de 2000, no concelho de Castelo de Paiva.

A verdade é que esperava mais sobre a história, as lendas e tradições desta abençoada terra duriense, apesar de, reconhecer que, comparando programas realizados noutras paragens, o concelho de Castelo de Paiva saiu dignificado e amplamente foi privilegiado.
A possibilidade dos pais de Santo António terem vivido nesta região, a história do Marmoiral da Boavista, a Ilha do Castelo e tantas outras histórias que perduram através dos tempos, podiam ser referidas naquela edição de um programa que sempre apreciei e vi com gosto, quanto mais não seja pelo entusiasmo que sempre me desperta a nossa história como Povo e Pátria e a emoção das viagens pelo território nacional.
Já sabemos que Castelo de Paiva é uma terra carregada de lendas e ternura, onde o desconhecido ainda perdura na memória daqueles mais ligados a estas coisas do antigamente. Desde moiras que ficaram para encanto, de minas repletas de riquezas e tenebrosos feitiços, repletas de oiro fino e maldades de fazer arrepiar a espinhela, por aqui há de tudo…
São, se assim se pode dizer, ofertas do povo humilde ao sublime, ao sonho e ao desconhecido.
Na ocasião, confesso que gostei mais da palestra que o velho “ mestre “ proferiu nesta vila, no âmbito da “ Semana da História sobre o Ex- Ultramar Português “ , quanto mais não fosse pela extraordinária oratória que a todos encantou, e pela frontalidade com que criticou aqueles que, de um momento para o outro, esquecem os valores do patriotismo e andam agora, armados em parvos e em intelectuais de latrina, a falar do “ achamento “ do Brasil e outras baboseiras de bradar aos céus, demonstrando uma pacóvia sabedoria que só nos envergonha como povo.
Recordo hoje que, nesse programa, para além da história do Rei Garcia, que por aqui nunca se ouviu falar, da narração feita sobre a Marquesa de Paiva, assunto de destaque na edição que José Hermano Saraiva dedicou a esta terra, apesar de aturada investigação confirmar que a dita senhora nunca esteve relacionada com esta terra. Deve ter sido, certamente, outra qualquer dama, talvez oriunda de alguma nobreza que por aqui passou, que não esta evidenciada no programa, que o insigne comunicador se queria referir.
Uma coisa é certa, ninguém pode dizer que o ilustre advogado, figura mais conhecida como historiador da TV, faltou à verdade. Disso não há dúvidas, porque a Marquesa de Paiva existiu de facto e ao que se consta foi uma refinada putéfia na alta-roda da nobreza parisiense, sacando guita e outras riquezas aos condes mais entusiasmados pelas suas roliças coxas e pela sua fama de levar na fita qualquer homem numa lábia contagiante que a todos atiçou, chegando a comprar o nome a um português com que se casou por interesse.
Nascida num gueto de Moscovo, filha de um alfaite pobre, Teresa Lachman cedo percebeu que não tinha nascido para ser pobre e reparou que a virtude e o trabalho não eram os melhores atributos para afastar a miserabilidade, protagonizando uma auspiciosa aventura que terminou com a conquista da alta classe de Paris, cidade que se rendeu à sua glória.
Esta confirmação descobria eu, numa espectacular crónica do grande escritor António Alçada Baptista, outrora publicada numa das edições da revista “ Notícias Magazine “ e podem crer que é uma história impressionante, de grande interesse e que vale a pena ler pelo seu espectacular fascínio.