quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CRÓNICA DE VIAGEM

Na serrania de Ancares e a um passo das Astúrias
Uma viagem por terras de Espanha
e as “ fiestas “ loucas de Fabero del Bierzo

Reportagem de Carlos Oliveira *

A exemplo de anos anteriores, um período de férias, para além de servir para descansar e conhecer novas paragens, foi escolhido para fazer-me à estrada e numa “escapadinha “ rever velhos amigos, aqueles que, mesmo à distância, não se esquece e se continua a estimar com mais vontade.

Voltei recentemente a Fabero del Bierzo, município espanhol cercado pela serrania de Ancares e pela Cordilheira Cantábrica, a um passo da emblemática região das Astúrias, terra outrora marcada pelo bulício da exploração carbonífera e pela presença de centenas de família portuguesas, que aqui se fixaram à procura de uma melhor vida.
Tinha vontade de voltar a “ viver por dentro “ as suas “ Fiestas del Verano “, repetir a dose da envolvência das noites loucas pelos bares e ruas da vila, conviver com os amigos, sentir que não somos estranhos, assistir a alegria contagiante de uma terra simpática e hospitaleira que sabe receber bem.
Tal como em outras edições, e apesar do calor tórrido que se fez sentir, as festas grandes voltaram a ser grandiosas, a justificar bem o forte empenho do “ Ayuntamiento de Fabero “, entidade que promove e assume a realização da iniciativa, apostando numa programação de excelente nível, que cada vez desperta e cativa maior adesão.
O concerto do conhecido duo espanhol “ Estopa “ foi sensacional, com os irmãos “ Muñoz “ a incentivar o delírio da juventude, ao apresentarem em Fabero os trabalhos do seu último disco, mas memorável foi, também, o espectáculo de Juan Pardo, o veterano cantor madrileno que ainda arrebata corações e arrasa multidões com o romantismo e o encanto dos seus melhores êxitos discográficos.
Os ritmos actuais com o grupo local “ Ebidem “ e as grandes noitadas animadas com as fabulosas orquestras Israel, Nuevo Talisman e Suavecito completaram um programa variado que contemplou iniciativas culturais, desportivas, mostras gastronómicas, provas de vinhos e actividades religiosas, onde merece realce a majestosa procissão em honra de Nossa Sr.ª del Rosário que percorre as principais ruas da vila, sempre com a participação das autoridades políticas e colectividades locais.
Os emigrantes portugueses, outrora trabalhadores mineiros, não esquecem a Virgem de Fátima, e continuam a decorar as janelas com lindas colchas e imagens da Nossa Senhora.
A noite mágica de Fabero é qualquer coisa de loucura, com dezenas de bares abertos toda a noite, a debitar os êxitos do momento, repletos de “ malta nova “ a curtir numa boa, essencialmente “ chicas muy guapas “ que irradiam sorrisos e nos cativam para a conversa, para um copo ou mesmo para um pé de dança.
O ambiente transforma-se completamente a partir das primeiras horas da noite e aquilo que, durante o dia, parecia uma urbe sem movimento e sem graça, apresenta-se como uma vila em êxtase, num delírio alucinante que salta para as ruas e empolga os visitantes, ao ponto de nos sentirmos obrigados a participar nesta agitação colectiva.
Quem viaja por terras de Espanha nunca poderá ficar indiferente à constante animação nocturna existente em qualquer " pueblo " ou vila, por muito simples que seja, e já nem valerá a pena recordar a grandiosidade das " Ramblas " no coração da Catalunha.
Em terras de Fabero não se foge à regra... acreditem que vale a pena !!!
As entidades locais também já perceberam que a atracção turística sem animação nocturna não é possível, daí a proliferação de bares, para todos os estilos e gostos, daí a aposta forte da Câmara Municipal e do “alcalde” Demétrio Canedo numa nova centralidade urbana nesta zona mineira, onde a " movida " começa a mexer com a região e a cativar cada vez mais gente.
Voltar a estar com os responsáveis políticos de Fabero, com o Henriquez, jornalista do Diário de León, e com tantos amigos que por ali tenho, e partilhar bons momentos de convívio, é um prazer imenso, um sentimento que dá orgulho e alento para garantir os valores de uma verdadeira amizade.
Beber um bom vinho da região demarcada de “ El Bierzo “, como um reserva “ Palácio de Arganza entre tantos outros, e comer umas saborosas “ tapas “ num dos muitos bares da vila de Fabero é sempre motivo de satisfação, não só pela partilha de agradáveis momentos, mas pela sensação de que somos bem recebidos, com carinho e uma simpatia que nos deixa à vontade e satisfeitos.
O prestígio conseguido por estas festas espalhou-se pela região e tem sido aplaudido pela população e visitantes, que reconhecem o meritório trabalho que tem sido desenvolvido pelo Alcalde Demétrio Canedo e pela sua Vereadora da Cultura, Carmen Travado, que governam em nome do PSOE esta ridente vila espanhola, cujas origens medievais ainda estão evidenciadas em inúmeros vestígios que se podem encontrar em redor dos seis “ pueblos “ que constituem o território municipal.
Com uma extensão de 42,5 Km2 e cerca de 7 mil habitantes, este é o terceiro núcleo mais importante da Comarca de El Bierzo, na província de León.
Terra de vales e de rios, de montanhas e de povos que conservam o tipicismo de outrora, a vila de Fabero, localizada a 700 metros de altitude, deve o seu crescimento demográfico e urbanístico á exploração mineira, uma actividade que teve grande peso nesta comunidade e que hoje é quase inexistente, perspectivando-se agora o aproveitamento das antigas minas para a concretização de um projecto de um Parque Temático dedicado ao sector mineiro e a ser servido pela auto-pista proveniente das Astúrias, que terá aqui um oportuno e funcional nó de acesso.
Desde o centro da vila ou partindo do Parque de Campismo em Lillo, o visitante pode perceber a grandiosidade da natureza envolvente, optando por vários itinerários pelo Vale de Fabero, desde o Caminho de Fontoria, ao Caminho de Pontigas, Robledal, da Água e de La Rubiona, este último percurso a atravessar o antigo lugar de Otero de Naraguantes, e onde ainda se pode ver moinhos recuperados e os tradicionais “ palomares “, um tipo de arquitectura popular usado em tempos mais recuados.
A exploração mineira foi a grande riqueza de Fabero e durante décadas marcou a economia local e alimentou os sonhos de muita gente, em particular de muitas famílias portuguesas, mas hoje, a exemplo do que se passa no restante território da bacia carbonífera de León, só resta minas abandonadas e o Lavadero de La Raicina para perpetuar a época em que a antracite era o motor do desenvolvimento desta região da Comarca de El Bierzo.
A cumprir o sexto mandato consecutivo, o Alcalde Demétrio Canedo continua optimista, acreditando nas potencialidades turísticas da região, e a sua popularidade no seio da família faberense continua em alta, até porque, a aposta nestas festas patronais, com uma combinação de atracções e ritmos para todos os gostos, é sinal da vontade de projectar e dar a conhecer uma terra laboriosa que, ultrapassado o apogeu do carvão, procura agora, revitalizar-se e consolidar um futuro sustentado e harmonioso.
No regresso a casa, e depois de um pequeno desvio até ao Lago de Carocedo, nos Montes Aquilianos, é imperdoável não visitar as “ Las Médulas “, as ruínas do que hoje resta da exploração aurífera mais importante do Império Romano e declaradas Património da Humanidade, com muitos castros e mais de 150 Km de rede de canais e galerias, a provar a grandeza desta colonização nesta zona da península.
Justifica-se também uma breve paragem no Alto das Ermidas, na C 533, já nos limites de fronteira da província de Ourense, para apreciar a beleza da remota povoação de Las Ermidas, encravada num penhasco assustador, com o seu casco histórico e o imponente mosteiro a dominar largos horizontes.
Não é difícil chegar a esta terra de Castilla y León, mas o melhor trajecto continua a ser a A24 ( se for por Cinfães ) ou o IP4 até Vila Real e depois a Auto - Estrada A24, agora totalmente aberta até à zona de fronteira em Vila Verde da Raia, para depois, já perto de Verin, entrarmos na Auto – Pista A 52 seguindo até à saída de La Gudiña, onde tomamos a estrada C 533 em direcção de Viana del Bolo e A Rua até Freijido para apanhar a N120 que nos leva até Vila Franca de El Bierzo se optarmos por Cacabellos na estrada LE 712 ou por Ponferrada se seguirmos pela Auto Pista e sairmos para a Variante LE 711 até Fabero.
A sugestão aqui fica, só resta vontade para realizar este passeio, na certeza de que, se gosta da neve e da exuberância da natureza, esta é a ocasião ideal para “ marchar “ para a localidade que, desde Novembro de 1995, partilha os desígnios de uma frutuosa geminação com as vilas portuguesas de Castelo de Paiva e Vila Pouca de Aguiar.
E, por outro lado, com a crise acentuada que teima em tramar-nos o quotidiano, sempre dá jeito atestar o depósito do carro com gasolina muito mais barata e comprar umas coisitas que, face à actual diferença de 6 pontos percentuais do IVA, sempre valerá a pena aproveitar.
Até lá…

* em Fabero - Espanha

6 comentários:

  1. Boa Carlos, grande reportagem !!!!!!!!!!!!!!!!
    Parabens grande amigo

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  2. Rita Tavares - Castelo de Paiva29 de outubro de 2010 às 09:33

    Caro amigo Carlos
    pode dizer-me qual o custo aproximado para fazer esta viagem num fim de semana ?
    Gostaria de realizar este percurso mais uns amigos
    Un abraço e obrigado pela informação que puder dar

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  3. Holla carlos
    Hombre, muy buena tu reportaje de Fabero asi qui tengas siempre ganas de marchar aca pero aca tienes los amigos qui te estiman y siempre te adoran
    Un abrazo carlos y gracias por Fabero
    Manolo --- Radio El Bierzo

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  4. Um bom trabalho de reportagem
    Parabens pela prosa e pela discrição, bastante atractiva e informativa quante baste
    Só gostaria de dizer que numa proxima oportunidade pode falar mais sobre Vila pouca de Aguiar e a as Minas de ouro romãnicas de Jales
    Um abraço amigo do
    Humberto Rocha - Parada de Cunhos

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  5. AMIGO CARLOS
    QUERO DAR AS MINHAS FELICITAÇÕES PELA SUA REPORTAGEM EM TERRAS DE ESPANHA, POIS TEM AQUI UMA EXCELENTE NARRATIVA QUE APETECE LER DO PRINCIPIO AO FIM, A EXEMPLO DAS SUAS MUITAS CRONICAS DE VIAGEM
    SAUDAÇÕES AMIGAS DA ROSA BRAVO

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  6. ainda bem que os teus horizontes são mais abertos do que as próprias definições ou seja fronteiras, pois estas delimitam simplesmente territórios...mas as fronteiras que passas eu sei quais são (as do conheçimento, do pensamento etc...) parabéns amigo...

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