sábado, 28 de fevereiro de 2009

Evocar o passado é honrar o presente

Recortes históricos de Vila Viçosa
e da freguesia de Espiunca


O nome de Espiunca é derivado de Spelunca, que significa cova ou gruta, nome apropriado ao local onde está localizada a sua Igreja Matriz. A freguesia é atravessada pelo Rio Paiva, ficando na margem direita o lugar de Cornes que, por volta de 1890, passou a chamar-se Vila Viçosa.

Os moradores do lugar de Cornes, por considerarem esse nome pejorativo, manifestaram, durante muito tempo, o desejo de mudar o nome da terra para Vila Viçosa, pretensão que mais tarde veio a ser aceite oficialmente.
Por volta de 1890 foram reorganizadas as matrizes prediais, tendo sido encarregado desse serviço, neste lugar, o amanuense da Fazenda Pública, Ernesto Pinto Ferreira, mais tarde escrivão – notário, para mudar o nome do lugar nos livros das respectivas matrizes para Vila Viçosa e assim se ficou a chamar, de forma definitiva, a Vilia de Cornias, que o rei conquistador havia de doar a Afonso Pelaiz.
Conforme referia o ilustre investigador arouquense Simões Junior, in “ Arouca – subsídios para a sua monografia “, o lugar de Vila Viçosa, que pelo Cadastro da População do Reino, de 1527, pertencia à freguesia de Souselo, do concelho de Sanfins, extinto em 24 de Outubro de 1855, passou para a freguesia de Espiunca que, por sua vez, tendo pertencido ao vizinho concelho de Paiva e comarca de Barcelos, por volta de 1750 foi anexada ao concelho de Alvarenga.
Pelo Censo de 1527, o lugar de Vila Viçosa tinha 12 fogos e 48 moradores e a freguesia de Espiunca 17 fogos e 68 moradores, passando em 1767, a ter 300 moradores e, em 1950 a ter 197 fogos e com mais de 800 habitantes.
Sabe-se que, D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, deu a 24 de Abril de 1139, a Afonso Pelaiz e sua mulher Maria Afonso, um Reguengo na “ Vilia de Cornias “ - ( Vila Viçosa ), conforme prova Carta de Doação, que o ilustre arouquense reproduziu na sua monografia.
No lugar da Espiunca, sede da freguesia, consta-se que terá existido um Mosteiro que acolhia um grupo de freiras, que em 1189 tinha por Prioresa Elvira Mendes, que deu uma herdade a João Guilherme e seu sobrinho Martinho Pedro que, pela morte de ambos, ficava livre do encargo da Condutaria, termo que significava todas as iguarias que se comem com o pão, normalmente chamado de conduto.
Não se sabe quando foi fundado este Mosteiro, e muito menos por quem, mas a sua existência é afirmada por Caetano do Amaral, na sua Memória V; João Pedro Ribeiro transcreve o documento da doação e Gama Barros localiza-a no ano de 1199.
A Igreja de S. Martinho da Espiunca incendiou-se em 1794 e tendo sido visitada em 7 de Maio do mesmo ano, pelo Bispo Píncio, este ordenou que os monjes beneditinos, seus padroeiros, a restaurassem, como era sua obrigação; em 30 de Abril de 1800 foi novamente visitada, desta vez pelo representante do Bispo, o Reitor de Santo Erício, que verificando que os beneditinos não tinham feito coisa alguma, “ lamentou o que se passava, ordenando uma finta voluntária para a reedificação da Igreja “, que se concretizou em 1806, mas a sua má construção levou-a rapidamente à ruína pelo que, por volta de 1945, o então pároco local, Padre Adriano Moreira, se viu na necessidade de promover obras e construir uma nova.
Na época dos forais novos, a freguesia de Espiunca pertencia ao concelho de Paiva e no foral deste concelho, dado por El Rei D. Manuel no primeiro de Dezembro de 1513, estão já referenciados os seus direitos e obrigações.
Manuel de Castro Pinto Bravo, na sua monografia sobre o extinto concelho de Sanfins, também relatava o curioso “ costume seguinte “, entretanto desaparecido : quando outrora, não existindo cemitério na dita povoação de Cornes, da freguesia de S. Martinho de Espiunca, que tem a sua Igreja e cemitério na margem esquerda do Rio Paiva, morria algum paroquiano, o préstito fúnebre acompanhava o finado até á beira do Rio Paiva, onde havia uma barca de passagem que se encarregava de levar o féretro à outra banda. Aí, depois de embarcado o defunto, dele se apartavam e despediam, lacrimosos, os seus parentes e amigos, sendo que o familiar mais dedicado atirava para o caixão mortuário a sua moeda de cobre, para que o barqueiro da Espiunca fizesse o fúnebre transporte do corpo que ia ser dado à sepultura e para que não ficasse a sua alma a vaguear pelas margens tumultuosas do Paiva.
Consta-se que, muitas vezes, os cadáveres tinham de ficar na margem direita do rio, por não se permitir a passagem do barco, devido às cheias ou correntes impetuosas que no Inverno acontecem, pelo que a melhor opção, para não acontecer esta situação desagradável, foi construir um pequeno cemitério em Vila Viçosa, mantendo-se todavia, o hábito de lançar, para a urna, uma moeda de cobre, vestígio da passagem do Acheronte, um uso depois abandonado.
Já o lugar de Vila Viçosa, conforme destacava o relato de Simões Júnior, tem uma capela dedicada a S. Pelágio e à sua festividade concorriam procissões das freguesias vizinhas de Nespereira, Fornelos, Moimenta e Travanca.
Em 1297, o Bispo de Lamego, D. Vasco, por uma provisão, autoriza o contrato seguinte entre o Reitor de S.Martinho de Espiunca e o Mosteiro de Pendurada ( hoje Alpendorada ) permitindo a celebração da missa em Vila Viçosa : “ Que o dito André Johanes en sa vida diga, ou faça dizer Missa no dito lugar de Córnias de três em três Domingos, e que lhys dê hy o manifesto e a comuniom; salvo ás festas, em que os ditos homeens devem ir à dita Iygreia a ouvir as missas e a manefestar e a comungar “, in Viterbo Eluc.voc Abadengo.
No livro “ Elementos para a história de Castelo de Paiva “, Margarida Pinho escreveu que, “ pela reforma administrativa de 1835, Paiva pertencia ao Julgado de Arouca – tendo sido nessa época que Espiunca passou do concelho de Paiva para o concelho de Arouca, talvez por se encontrar mais perto deste “.
A passagem de Espiunca para o concelho de Alvarenga muitos anos antes, mas em data que se ignora, não foi pacífica, pois vimos que em 1789 os Oficiais do concelho de Alvarenga, com os homens bons da governança, mandaram prender o barqueiro de Espiunca por desobediência às suas ordens e também pela fama que tinha de explorador e se Espiunca ainda pertencesse a Paiva, a Câmara de Alvarenga não tinha jurisdição.
Pinto Madureira, no número 248 da antiga Gazeta de Arouca, escrevia sobre as Festas de S. Pelágio e do Senhor dos Enfermos, as mais emblemáticas da paróquia: “ S. Pelágio é também muito festejado com todo o esplendor todos os anos, concorrendo ali procissões das freguesias vizinhas numa grande devoção, mas ainda não vai longe o tempo em que a festa dos Senhor dos Enfermos era feita com bastante brilho e ate grandesa, mas mais tarde os habitantes de Macieira e de toda a freguesia de Fornelos, lembraram-se de colocar ali em Macieira, uma imagem do Senhor dos Enfermos com grande estrondo e arrojo, o que veio a roubar à romaria de Seravigões, a maior parte dos festeiros e dos devotos, já pela novidade, de que o povo sempre gostou, já pelo sítio da romaria que é muito superior, já pelas grossas ofertas que ali começaram a cair todos os anos. Ainda assim, a festa de Seravigões, modesta como é, e deve ser, tornou-se digna e muito religiosa “.

Texto adaptado por
Carlos Oliveira


1 comentário:

  1. Amigo Carlos,

    Fiquei muito feliz com a tua reacção e por saber que já tinhas passado por terras centro-alentejanas (Sousel)! Fica também sabendo que tens alguém aqui no Alentejo para o que precisares e penso que juntos podemos fazer uma boa promoção de ambas Vilas Viçosas. Só algumas questões, tu és natural de Vila Viçosa? Queres, fazer um intercâmbio de textos, digamos que semanalmente, entre os nossos blogues para divulgação de ambas as terras? Tens ideias para de facto possa haver uma aproximação entre ambas as terras? Como se chamam (gentilico) os habitantes de Vila Viçosa (Espiunca)?!?!

    Recebe um forte abraço!

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